DESEMPREGO E AS GARRAFAS DE VINHO NO FUNDO DO MAR

quinta-feira, junho 02, 2016 Marcos Henrique de Oliveira 0 Comments


Essa história de desemprego é conversa de quem não tem o que fazer. - Chico Anysio

Segundo o  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e até o momento onde este artigo está sendo escrito, "mais de 11 milhões de pessoas estão na fila por um trabalho, o maior contingente da população desocupada nos últimos quatro anos". Você pode estar fazendo parte desta estatística ou não mas alguém próximo a você, com certeza, está. Estamos falando de um número correspondente ao total da população de várias cidades no Brasil, um valor muito relevante para entender o comportamento psicológico e social em torno de nós.

Sou formado em Propaganda e Publicidade desde 1997 mas passei quase toda a minha vida profissional como freelance de criação e redação publicitária. Freelancers já tiveram seu momento de glória no passado e era até possível viver com alguma dignidade, pagar as contas e o "luxo" de viajar de vez em quando. Hoje, existem centenas e milhares de profissionais competentes que não estão conseguindo recolocação por diferentes motivos que independem da crise. 

A experiência de um freelance, por exemplo, é diferente de alguém que trabalha diariamente em uma empresa ou agência. Sem falar que não possui as vantagens de um emprego tradicional como férias. etc. É mais um modelo de trabalho que periga acabar por falta de empregabilidade e oportunidades no mercado. Freelancers também estão virando espécies em extinção.

O mesmo acontece em outras áreas e o trabalho informal virou a saída de emergência mais comum para sobrevivência. Não deixa de ser triste ver um ex-advogado ou professor universitário vendendo quentinhas para sustentar a família ou um Diretor de Arte pintando quadros para expor na rua, na tentativa de manter sua renda. Grupos e mais grupos são criados no Facebook para fornecer indicações de emprego mas falta oportunidade para tanta demanda. 


Será que somos como garrafas de vinho no fundo do mar, aguardando que alguém, por sorte ou acaso, nos encontre? Se é este o caso, isso representa um grande erro no sistema de empregabilidade que é feito no Brasil. O discurso e a relação entre as empresas e seus colaboradores, precisam mudar, evoluir e se atualizarem. E tudo começa pela contratação de novos talentos (de todas as idades) que possam oxigenar de forma criativa e inusitada, um mercado que parou no tempo.


Um bom vinho precisa de tempo, paciência e maturação para se tornar o melhor da safra. O clichê "quanto mais velho, melhor" não serve apenas como um consolo para esquecer e valorizar a idade, esse é o ponto de vista negativo dessa história. O foco do desemprego não é só a falta de oportunidade mas a incapacidade (das empresas) em selecionar e reter talentos. Ah, mas isso você já sabe. Sabe, porque é o que vem acontecendo nos últimos 30 anos. Como podemos mudar essa história?

O PARADIGMA DA INOVAÇÃO

 
Nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo grau de consciência que o gerou - Albert Einstein

A verdade é que pouco mudou na maneira como as empresas brasileiras enxergam a criatividade e a inovação no mercado de trabalho. Parece que apenas as profissões mais óbvias como a Propaganda e Publicidade, o Marketing e as Artes em geral (cinema, pintura, etc) podem e devem ser criativas. Mais incrível ainda é descobrir quanto dinheiro é gasto, sem resultado, nas tentativas de promover alguma mudança inovadora nas empresas tradicionais

Exemplos: a burocracia é decepcionante, a mentalidade é conservadora ao extremo e os recursos ficam nas mãos de diretores ou departamentos que não entendem nem o principio de uma ideia que não contenha um Power Point ou Excel para explicar a margem de lucro de algo que ainda nem foi desenvolvido. No final, muitos processos acabam ficando tão desgastantes que nem vale a pena debater pela sua realização. Em resumo, a empresa aniquila a sua própria lucratividade por falta de um modelo mais moderno e profissionais  que entendam, realmente, o que inovar significa.  

A impressão que fica é que alguém (outra empresa, de preferência internacional) precisa fazer primeiro (e obter sucesso) para que o exemplo possa ser seguido pelas empresas brazucas. Vejam o caso da Uber, uma ideia que poderia ter sido desenvolvida no Brasil, se o setor de transporte privado não fosse tão arcaico e sem criatividade. Agora é correr atrás de quem já inovou, né? Vai ser sempre assim?

UM CRIATIVO EM CADA DEPARTAMENTO

 
Existe (ainda!) uma mentalidade antiga  e bem negativa na visão que as empresas tradicionais possuem a respeito do profissional criativo. E, honestamente, somos responsáveis, em parte, por este tipo de estereótipo. Supostamente, os criativos são pessoas que não atendem os prazos, não seguem ordem diretas e nem a filosofia da empresa. Eles não são "controláveis", não têm horário e pontualidade e (essa, eu já ouvi muito) são "meio malucos"

Talvez essas definições servissem para um criativo lá nos anos 70 e 80 ou um profissional como o personagem Don Draper da série Madmen. Chega a ser um paradoxo, uma empresa chamar um criativo para gerar novas ideias e ele precisar "se encaixar na filosofia". Porém, acreditar que estes estereótipos ainda são verdadeiros, apenas torna o trabalho inovador mais lento e difícil.

Mesmo com o sucesso financeiro de empresas consideradas jovens como o Facebook e o Google, a maioria das empresas brasileiras ainda não entende o que é "pensar fora da caixa" e mantém aquela estrutura formada lá na Era Industrial (mecanização da produção), engessando qualquer movimento que ameace o seu formato.  

Do meu ponto de vista, o mercado precisa é de um criativo em cada área, principalmente naquelas consideradas mais conservadoras (Contabilidade, Estoque, Controle de Dados, etc). E existem centenas disponíveis por aí, tentando recolocação e mesmo recém-saidos da faculdade. Mas cadê a oportunidade?

ABRA O VINHO (E A CABEÇA)


Não consigo me lembrar quando o Brasil não esteve mergulhado em alguma "crise". Não somos japoneses, que consideram uma crise como oportunidade. Nosso modelo empresarial deseja ansiosamente o Capitalismo Selvagem que é praticado em outros países e não investe, nem em pessoas e muito menos em tecnologia e desenvolvimento progressivo de talentos. 

Este é mais um paradigma na busca pelo progresso brasileiro: como podemos inovar sem investimento no potencial latente, presente nas universidades de todo o país e, ao mesmo tempo, valorizar os criativos disponíveis no mercado de trabalho que não encontram oportunidades reais para crescer profissionalmente?

Bom, eu sou otimista: acredito que, em um futuro próximo, todas as garrafas de vinho que estão no fundo do mar serão descobertas e abertas. Mas enquanto isso não acontece, deixa eu ver se chegou algum frila lá no meu LinkedIn. Até a próxima!

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