TUDO É SOBRE VOCÊ E O MUNDO COMO PALCO DA SUA ILUSÃO

quarta-feira, maio 04, 2016 Marcos Henrique de Oliveira 0 Comments


O egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade, as pequenas covardias do quotidiano, tudo isto contribui para essa perniciosa forma de cegueira mental que consiste em estar no mundo e não ver o mundo, ou só ver dele o que, em cada momento, for susceptível de servir os nossos interesses. - José Saramago

Pois é, este artigo vai precisar de um pouco mais da sua atenção. Como não sei nada sobre carros, futebol ou fofocas de celebridades, resolvi escrever sobre neurociência, mais propriamente na questão de como funcionamos em momentos de crise, ansiedade e outras coisas que não te deixam dormir. Vou tentar ser o menos nerd possível, ok?

A primeira coisa que você precisa saber é que, se não for um zumbi ou vampiro, tudo que acontece no mundo, no seu país ou na sua cidade, é sobre você. Se está vivo, é sobre você e ninguém mais. Você pode ser uma pessoa generosa, altruísta, se preocupar com a Natureza e a guerra na Síria mas tudo o que o seu cérebro quer saber é sobre você. É em você (e no seu corpo) que ele habita, é sobre como você enxerga, interpreta e sente o ambiente que interessa ao seu cérebro e nada mais. Ele é responsável por você e mais ninguém

Não se sinta egoísta por isso, é uma questão de autopreservação. E para que isso aconteça, existem algumas ferramentas bem legais que o cérebro desenvolveu para garantir que você não fique, digamos, louco de pedra (o que pode acontecer com algumas pessoas) e consiga manter sua mente saudável na maioria das vezes. Vamos conhecer?


A galera acima vai nos ajudar a entender porque as pessoas podem ser inconsequentes, agressivas, impulsivas e como tudo isso fica mais grave quando passam por momentos de crise total como guerras, conflitos urbanos, etc. Serve também para acabar com aquele mito, muito difundido por algumas religiões, de que é preciso "matar o Ego" para se atingir um grau de espiritualidade, humildade e outras qualidades fofas. Não é bem assim que funciona. Aliás, quanto mais você pesquisar sobre Ego, Id e Superego, melhor para sua cabeça quente de tanta notícia ruim. Seu cérebro agradece!

Na teoria, podemos dividir nossas ações entre os comportamentos instintivos (Id), sociais (Superego) e racionais (Ego). Isso serve apenas como exemplificação, já que todos eles trabalham em conjunto e surgem de acordo com os estímulos que vem de fora, com as emoções, etc. Experimente descobrir qual é mais presente na sua personalidade e qual exerce mais "pressão" no seu comportamento cotidiano, ok?

Nesse papo, nosso foco é o Id. O Id é o "Médico e o Monstro", aquele que ajuda e atrapalha, dependendo das circunstâncias. Ele pode te salvar ou te matar, simples assim. Sem o Ego e o Superego para manter o equilíbrio, o bicho pega. E pega mais ainda nos momentos em que as condições com as quais a pessoa está acostumada, faltam. Irritação, ansiedade, fobias e medos são um prato cheio para o Id deitar e rolar. Como o Id gosta de ficar bem escondido, ele mora num lugar que talvez você nem conheça, chamado cérebro reptiliano.


Tem gente dizendo por aí que o cérebro reptiliano é a causa da violência e do mal do mundo porque representa o Homem que não evoluiu, que permanece primitivo e irracional. Isso não é totalmente verdade, já que fatores sociais como pobreza, falta de recursos básicos, stress e depressão também criam o ambiente perfeito para gerar o estado Fugir ou Lutar que o Id tanto gosta. 

Tudo é sobre você, lembra? Então quando você não consegue decidir o que é melhor para você, Id, Ego e Superego entram em conflito para ver quem sai ganhando. É o resultado dessa batalha (que acontece em minutos ou segundos) que te fazem acelerar ou reduzir o seu ritmo. Outra forma de entender isso está no trio Ação/Julgamento/Reflexão. Legal, hein?

O Ego, sua parte racional, precisa de tempo e reflexão para tomar uma atitude ou fazer uma escolha. O Id prefere cair matando no assunto e o Superego tenta buscar na sua (in)formação, a diferença entre o certo e o errado, de acordo com o que foi ensinado pela família e a sociedade na qual você vive.  

ILUSÃO X IMAGINAÇÃO 


Quando entramos no modo Fugir ou Lutar, algo interessante acontece: do lado positivo, o Id estabelece uma estratégia automática de ação. Se o seu corpo e mente já foi treinado para isso (como o de um atleta, jogador ou lutador), o Id vai usar essa informação para te salvar (seja fugindo ou atacando) daquilo que representa uma ameaça em potencial para sua sobrevivência

Mas, se você é apenas um simples mortal, é mais provável que o medo te domine e, à partir disso, a ilusão. Todo medo gera ilusão, sempre. É no medo que criamos a possibilidade da perda que o cérebro racional não consegue entender (porque só opera com fatos). Em outras palavras, quanto maior o medo, maior será o erro da sua percepção da realidade e interpretação errônea dos acontecimentos. Ah, agora a ficha caiu, né?

Quanto maior o medo (do futuro, do presente, da prova do vestibular, do desemprego, do diabo a quatro), maior será a possibilidade de você agir sob a influência do Id e do seu cérebro reptiliano, criando cenários ilusórios de fracasso e desespero. O mundo é um lugar de ansiedade para os ansiosos, de terror para os medrosos, de tristeza para os tristes. E, além disso, nada criativo. Opa, vamos dar um pouco de equilíbrio nessa cabeça, reptiliano?

 
Deixe quem desejaria mudar o mundo mudar-se primeiro a si mesmo. - Sócrates
O mundo é uma realidade universal, desarticulada em bilhões de realidades individuais. - Miguel Torga

"Sua cabeça é seu Guia" sempre é um bom exemplo de como lidar com escolhas. Tudo é sobre você e o mundo pode ser um lugar para sua imaginação ou ilusão. Um desiludido é alguém que bateu de frente com uma realidade que destruiu suas fantasias e isso não é, necessariamente, ruim. Ao trocar a ilusão pela imaginação, ganhamos coragem e criatividade. A imaginação coloca o Id no lugar dele e o cérebro passa a fazer o que foi criado para fazer: pensar em soluções adequadas para sua evolução e desenvolvimento enquanto o Id cuida para que você não se machuque no processo.

Ao contrário da ilusão, a criatividade não produz negatividade, produz arte, novos contextos e um ponto de vista que amplia o seu grau de entendimento pessoal e social. Vale a pena se perguntar: "Do que tenho realmente medo? O que me faz querer Fugir ou Lutar? O que estou pensando, tem concordância com a realidade ou é apenas fruto de uma ilusão?"

Você pode, por exemplo, tentar analisar as questões sobre o olhar do Id, do Ego e do Superego. Isso vale para as manifestações sociais (Id ou Ego?), problemas familiares (Id ou Superego?) e pessoais (Id, Ego ou Superego?). Lembrando que este artigo é apenas uma introdução ao assunto e que o lance todo é bem mais complexo, combinado?

Tem um mundo inteiro lá fora, esperando para descobrir qual é o seu mundo interior. Larga esse sorriso do lagarto e vai atrás da sua realização. Boa sorte e até a próxima!

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