AMOR DIGITAL E AS CONEXÕES PERDIDAS DO SENTIMENTO ORGÂNICO AUSENTE
Não consertamos mais relacionamentos, apenas bloqueamos. O fato de eu poder romper relações pelo WhatsApp e logo em seguida bloquear a pessoa, faz com que o medo da consequência seja menor. Também nos desacostumamos a ler sinais visuais – o rosto da pessoa que está prestes a chorar ou que está ficando com raiva – porque agora temos um encontro mediado pela internet. O resultado de tudo isso é que mudou o padrão psicológico. A internet nos tornou uma fotinho no perfil, sem sentimentos. - Leandro Karnal
Sempre considerei a minha pele como algo muito importante. Não apenas pelo que ela representa biologicamente (maior orgão do corpo, proteção, etc) ou por sua aparência estética de ser ou não bonita. É na pele que sinto e recinto. É na pele que me conecto e minha descendência que passa por índios, portugueses, italianos e baianos, me ensinou que é na pele que encontro o contato com o mundo, seja no abraço apertado ou no toque sutil do encontro das mãos. Pele é contato. Pele é sentimento.
Mas a pele, esse coisa antiquada que temos desde que nascemos e nem prestamos muita atenção, foi substituída por algo mais moderno, prático e útil, a tecnologia. O toque das mãos foi trocado pelo toque do mouse, o olhar pela webcan e o brilho opaco de alguns rostos sem bronzeado, pela luminosidade das cores perfeitas do 4k e filtros do Instagram. As Redes Sociais estabeleceram o que os filmes de ficção já previam faz tempo: fomos substituídos por versões digitais de nós mesmos. E nos apaixonamos por elas.
Bem-vindo ao mundo do Amor Digital
Não se trata de detonar o que a tecnologia nos proporcionou. Anos atrás, o Departamento de Defesa dos EUA solicitou, encarecidamente, que o Twitter não deixasse de funcionar para que os combatentes americanos pudessem falar com suas famílias. A Tecnologia conecta, informa e ensina, aproxima e reaproxima pessoas todos os dias. Este é o lado bom. Mas nem tudo pode ser somente bom, não é?
Essa mesma tecnologia já começou a alterar padrões de comportamento no cérebro humano que ainda estão sendo medidos e estudados. Nos tornamos mais resilientes para algumas coisas e irritados para outras, por exemplo. Uma dessas "coisas" é o sentimento de saudade e perda. Saudade parece uma palavra tão velha quanto o seu significado. As ferramentas de contato encurtaram a distância, tornando tudo uma "saudadezinha", algo que passa com um clicar do mouse.
Ganhamos ao matar a saudade do lugar onde nascemos ou a cidade por onde passamos (uma rápida pesquisa no Google, resolve) e, ao mesmo tempo, matamos a saudade que pede encontro, presença, toque e abraço. Virou tendência consumirmos as pessoas apenas naquilo que nos satisfaz. Um pedaço ali no Facebook, um papinho no Whatsapp, aquela fotinho no Instagram e estamos satisfeitos. Estamos mesmo?
Me perdoe a pressa
É a alma dos nossos negócios
Oh! Não tem de quê
Eu também só ando a cem
Quando é que você telefona ?
Precisamos nos ver por aí
Pra semana, prometo talvez nos vejamos
Quem sabe ?
Quanto tempo... pois é... (pois é... quanto tempo...) - Sinal Fechado, Chico Buarque
Não aguardamos mais as pessoas, aguardamos contatos (repare na ironia da palavra). Certa vez, tentei explicar para um amigo sobre a necessidade de não colocar uma pratica espiritual (como frequentar a missa, rezar, etc) no meio dos compromissos de trabalho e reuniões porque ir a uma igreja não é a mesma coisa do que marcar uma consulta com o dentista. Existe uma "entrega" diferente de si mesmo que pode parecer óbvia para alguns mas para outros não. Penso o mesmo sobre as pessoas.
Na internet, não entregamos totalmente o que somos, apenas o que desejamos que o outro veja. Emoticons são representações universais para os sentimentos e não o que sentimos, em particular, com aquela pessoa. Sua imagem digital não é você, não importa o quanto você gostaria que fosse. O você "real" foi trocado por um estilo. Um estilo sem pele, sem ossos, sem cheiro ou qualquer presença orgânica que indique que você, olha só, é humano. É um estilo brilhante, em alta resolução, sempre sorridente e charmoso mas não é você. E vamos torcer para que nunca seja.
Com tanta informação disponível para quem quiser, o meu maior medo é virar um "banco de dados" para as pessoas e vice-versa. "Fale um pouco sobre você e encontre o seu par perfeito", prometem os sites de relacionamento. "Encontre a fórmula perfeita do Amor", "Descubra sua alma gêmea online". Ganhamos o mundo na ponta dos dedos. E deixamos os sentimentos escorrerem pelas mãos. Nessa "simulação do encontro", ativamos todos os estímulos necessários para enganar nosso cérebro e proporcionar a relação perfeita...com o computador.
É claro que isso torna muito mais fácil na hora de "deletar" um relacionamento. Afinal, não sentimos mais como nosso pais ou avós. Não precisamos mais esperar dias por uma carta, pela revelação do filme da máquina fotográfica daquelas férias juntos, do telefonema a cobrar de outra cidade onde "nosso amor" se encontra. Como essa gente "velha" sofria no passado, hein? Agora é tudo mais moderno, rápido e simples. E indolor. É mesmo, antenadinho?
É claro que isso torna muito mais fácil na hora de "deletar" um relacionamento. Afinal, não sentimos mais como nosso pais ou avós. Não precisamos mais esperar dias por uma carta, pela revelação do filme da máquina fotográfica daquelas férias juntos, do telefonema a cobrar de outra cidade onde "nosso amor" se encontra. Como essa gente "velha" sofria no passado, hein? Agora é tudo mais moderno, rápido e simples. E indolor. É mesmo, antenadinho?
Sei, não. Me parece que permanecemos enganados pela mesma ansiedade. Só que agora esperamos o comentário no post, a réplica no whatsapp, a resposta que não chega. Comunicar e sentir não é a mesma coisa. Toda vez que o cérebro organiza as palavras para escrever um post ou mandar uma mensagem, ele está fazendo escolhas que reduzem a espontaneidade emocional. Escolhas racionais, burocráticas e frias. E, para ser sincero, ninguém está escrevendo um romance ou livro quando está digitando, né?
Quem já brigou ou terminou algum relacionamento pelas Redes Sociais, não percebeu a ironia da falta de relacionamento consigo mesmo. Nos acostumamos a anestesiar qualquer dor, até mesmo aquelas que são necessárias para o nosso crescimento pessoal.
Quem já brigou ou terminou algum relacionamento pelas Redes Sociais, não percebeu a ironia da falta de relacionamento consigo mesmo. Nos acostumamos a anestesiar qualquer dor, até mesmo aquelas que são necessárias para o nosso crescimento pessoal.
Uma Construção Social é quando um modelo é formado na sociedade e, rapidamente, torna-se um padrão para todas as pessoas. Não ligamos mais para o outro que está na nossa frente e olha mais para o celular do que para nós. Aceitamos placidamente a interrupção de minutos ou horas no whatsapp, no meio de um papo que deveria ser interessante para os envolvidos. Estabelecemos conexões apressadas, relacionamentos corridos e frágeis. Parece que sempre precisamos estar em outro lugar. Que lugar seria esse?
A desculpa de que a vida é assim mesmo, é velha. A letra de Sinal Fechado (veja acima) foi escrita por Chico Buarque em 1974. A tecnologia nos forneceu todas as ferramentas para nos conectarmos ao mundo como um todo e perdemos o único, o indivíduo. Recebemos tudo e entregamos muito pouco. Talvez seja a hora de começar a acreditar um pouco menos nas propagandas de celulares cada vez mais modernos e dar um passo para fora das telinhas. Um passo em direção ao outro. Daquele outro que precisa de você inteiro, orgânico e nada digital.
Nem tudo está ali, na palma da sua mão. Vai buscar a mão do outro, vai raptar o amigo preso na rotina, visitar a tia, a casa dos avós que cheira a bolinho de chuva, vai se conectar nos sentidos que fazem sentido. E cada encontro vai ser sagrado, eu garanto.
Seus contatos, aqueles que são de verdade, agradecem. Até a próxima!
A desculpa de que a vida é assim mesmo, é velha. A letra de Sinal Fechado (veja acima) foi escrita por Chico Buarque em 1974. A tecnologia nos forneceu todas as ferramentas para nos conectarmos ao mundo como um todo e perdemos o único, o indivíduo. Recebemos tudo e entregamos muito pouco. Talvez seja a hora de começar a acreditar um pouco menos nas propagandas de celulares cada vez mais modernos e dar um passo para fora das telinhas. Um passo em direção ao outro. Daquele outro que precisa de você inteiro, orgânico e nada digital.
Nem tudo está ali, na palma da sua mão. Vai buscar a mão do outro, vai raptar o amigo preso na rotina, visitar a tia, a casa dos avós que cheira a bolinho de chuva, vai se conectar nos sentidos que fazem sentido. E cada encontro vai ser sagrado, eu garanto.
Seus contatos, aqueles que são de verdade, agradecem. Até a próxima!
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