OS CONTOS PROIBIDOS DO MARQUÊS DE SADE - A HISTÓRIA DO ESCRITOR LIBERTINO QUE CHOCOU O SÉCULO XVIII.

terça-feira, janeiro 31, 2012 Marcos Henrique de Oliveira 5 Comments


"...e que nada nem ninguém é mais importante do que nós próprios. E não devemos negar-nos nenhum prazer, nenhuma experiência, nenhuma satisfação, desculpando-nos com a moral, a religião ou os costumes. Mate-me novamente ou aceite-me como eu sou, por que eu não mudarei." - Marquês de Sade

O que você pensaria, se as palavras acima fossem ditas por, digamos, Gandhi, Steve Jobs ou mesmo algum novo guru da nossa época? Sem assinatura, este é um discurso de uma pessoa que preza a liberdade pessoal acima de tudo. Uma pessoa que abraçou completamente sua própria natureza. Tudo muda quando você descobre que era esta a filosofia do homem que deu origem ao termo médico sadismo, a perversão sexual de ter prazer na dor física ou moral do parceiro ou parceiros (Wikipédia). Tudo muda quando conhecemos a vida e a obra de Marquês de Sade (1740 - 1814). 

"Libertinagem é uma palavra típica do século 18 e ‘libertino’ é um tipo social da época. O libertino era um aristocrata que desafiava os valores dos homens e de Deus" - Eliane Robert Moraes, professora de Estética e Literatura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, autora de Lições de Sade – Ensaios sobre a Imaginação Libertina.

Para começo de conversa, Donatien Alphonse François de Sade, o Marquês de Sade, não era apenas um pervertido francês que realizava suas fantasias mais obscuras. Sade foi um intelectual de educação superior que permaneceu 13 anos preso por suas ideias libertinas e seu pensamento filosófico a respeito da condição humana. Morreu em um hospício, aos 74 anos, encenando suas peças com loucos varridos e tão gordo que mal podia se mover. Escreveu no encarceramento e na loucura, várias de suas obras. Foi casado por 27 anos com sua primeira esposa. E foi amado por duas outras mulheres até o fim de sua vida. 

"Aos poucos, artistas como Salvador Dalí e André Masson começam a se inspirar nas imagens sadianas de crueldade para compor suas obras. Para a filósofa e escritora Simone de Beauvoir, a filosofia radical de liberdade de Sade precedia o existencialismo em mais de um século. Há quem o veja, ainda, como um precursor do estudo do foco da sexualidade que permeia toda a psicanálise de Sigmund Freud. Após mais de dois séculos de sua morte, o marquês recebeu dos surrealistas o apelido de “divino”, entrando para o hall de gênios da literatura e da filosofia." - Giovana Sanchez, Guia do Estudante

Se você deseja ler Sade apenas pela "sacanagem" erótica e a parafilia (desvio sexual, veja o link) de sua obra, sinto muito: o pervertido será você. E o pior: vai ficar entediado com os longos trechos que não contém nada mais do que um pensamento filosófico altamente revolucionário para época no qual criticava abertamente os modelos de conduta moral, social e política.

Então, por quê você deveria ler Sade? Por que o maior pervertido da história humana é considerado um dos gênios da literatura e da filosofia?

Esta resposta vai depender da sua educação literária. Sade não é para crianças ou adolescentes erotizados. Sade não é para pessoas politicamente corretas e recicladas. Sade vai sacudir sua moral e os seus "bons costumes". Orgias, pedofília, homosexualismo, sangue, fezes e urina. Não é uma leitura fácil, assim como não é fácil julgar alguém pela sua escolha sexual, política ou religiosa. Mesmo assim, muitos fazem isso todos os dias. Sade é um desafio. 

"Ele coloca uma questão fundamental: como lidar com nossas paixões mais cruéis para encontrar um ponto de superação e de civilização." - Rodolfo García Vázquez, um dos fundadores da Companhia de Teatro Os Satyros, que interpreta Sade desde a década de 1990.

Sempre aconselho as pessoas a lerem, primeiro, a biografia de um autor para que se possa entender o contexto de sua obra, sua motivação e as ideias que moldaram sua escrita. Reforço essa dica com Sade. Buscar a liberdade total pode ser uma experiência chocante. Você foi avisado. Tenha uma boa (e perversa) leitura.
Sade – Vida e Obra, de Fernando Peixoto, Paz e Terra, 1979
O livro trata de aspectos curiosos da vida de Sade, assim como de sua obra. Peixoto conta de maneira cronológica a vida do marquês, entremeando análises de seus livros mais importantes.
Lições de Sade – Ensaios sobre a Imaginação Libertina, de Eliane Robert Moraes, Iluminuras, 2006
Eliane é uma das únicas especialistas em Sade no Brasil e, neste livro, versa sobre sua filosofia, sua importância para os autores contemporâneos e seu espírito libertino.
120 Dias de Sodoma, de Marquês de Sade, Iluminuras, 2006
Livro fundamental para a compreensão da obra de Sade, considerado sua obra-prima.

Filmes
Contos Proibidos do Marquês de Sade, de Philip Kaufman, 2000
O filme é beaseado nos últimos dias de Sade no hospício, quando encena peças com os internos. Veja o trailer:


Fontes:

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5 comentários:

Anônimo disse...

O filme foi simplesmente espetacular, não é um filme fácil de se assistir, contém cenas fortes e palavras de baixo calão mesmo assim um ótimo filme, realmente vale a pena ver, com certeza ele irá abrir suas mentes!!!

Anônimo disse...

Tomei a liberdade de citar o artigo na íntegra. Adorando o espaço.

Abs. do In_

Agradeço muito. Aguarde por mais novidades :)

psiquê disse...

Sade estava a frente da sua época assim como Nelson Rodrigues. Adelaide Carraro. Julio Verne e tantos outros. Josias.

Agradeço pelo seu tempo e comentário, Josias. Continue com o AGE e compartilhe :)