12 CONTOS - JULHO

quarta-feira, agosto 17, 2011 Marcos Henrique de Oliveira 1 Comments


Juli atravessou a seção de frutas em direção ao corredor de massas. Fazer compras na madrugada era uma conquista agradável da sociedade moderna e de consumo. Sentia-se bem neste labirinto de oportunidades porque gostava de cozinhar. Era uma terapia. Misturar os ingredientes, experimentar novos sabores. Ao contrario de suas amigas, ir ao supermercado era um evento para Juli.

Pensar que isso realmente só aconteceu depois que Paulo foi embora. Paulo e suas refeições rápidas e sem graça. Paulo e suas vitaminas energéticas. Paulo e suas constantes idas e voltas do escritório de advocacia tarde da noite, da casa na praia e finalmente da sua vida. Paulo e sua falta de sabor e tempero. Dane-se, Paulo.

Pimenta-do-reino, canela, molho inglês. Juli passava pelos condimentos, refletindo suas escolhas. Dois anos sozinha não parecia muito. Depois da mudança para um apartamento menor, passou a enxergar suas necessidades como algo a ser controlado pelo tempo do lado de fora. O ritmo, porém, agora era o dela.

Seus trinta e dois anos e um curso de culinária para ocupar as horas vazias lhe ensinaram que tudo precisa estar na temperatura certa para acontecer. vinho branco deve ser servido muito fresco (entre os 8 e os 12 graus) e o tinto na temperatura ambiente, para que respirem. O seco antes do doce, o novo antes do velho e o branco antes do tinto. Esta é a ordem, é assim que deve ser. Juli não sabia se já havia passado da fase do branco mas, com certeza, não estava mais no seco.

Cabelo-de-anjo, Ditalini, Spirali. O corpo de Juli ganhou tamanho depois que Paulo foi embora e levou aquela ridícula máquina de tortura chamada esteira ergométrica. Suas revistas de step e maratona foram trocadas por deliciosos pratos mostrados na capa. 

Longe de ser uma desculpa depressiva, a comida trouxe novas formas de prazer para Juli e a despediu do cargo de "namorada gostosa do advogado de sucesso". Continuava gostosa do seu jeito e à sua maneira. E sentia-se bem com isso.

Peixe não é frango. Massa não é arroz e feijão. Uma refeição é um ritual amoroso entre o paladar e o corpo. É um relacionamento. Juli aprendeu que gostar é apenas cinquenta por cento. É preciso trabalho duro para selecionar, escolher. É preciso cheirar, sentir e provar. E depois cortar, picar, misturar,  temperar e provar de novo e de novo até que o sabor "aconteça" como gosta de dizer. Talvez, até algumas lágrimas sejam necessárias porque algo que é só seu deve ser entregue para fundamentar essa alquimia perfeita, essa colheita esperada após tantas estações. Uma colheita forjada na paciência, na segurança e no amor.

Juli nem havia reparado no homem ao seu lado. Parecia confuso e indeciso entre os dois tipos de molho para salada que segurava nas mãos. Ela olhou para ele e pensou "carne". O ambiente do supermercado estava na temperatura certa. Ele sorriu para ela, encabulado. Definitivamente, Juli passou do vinho branco.

Notas (Wikipédia):
Juli é o nome para julho em várias línguas. Julho é o sétimo mês do ano no Calendário Gregoriano, tendo a duração de 31 dias. Julho deve o seu nome ao imperador romano Júlio César, sendo antes chamado Quintilis em latim, dado que era o quinto mês do Calendário Romano, que começava em Março. Também recebeu esse nome por ser o mês em que César nasceu.

Julho começa (astrologicamente) com o Sol no signo de Câncer (Caranguejo) e termina no signo de Leão. Astronomicamente falando, o Sol começa na constelação de Gemini (Gêmeos/Gémeos) e termina na constelação de Cancer.

No roda do ano pagã julho termina Lughnasadh ou próximo dela no hemisfério norte e no Imbolc ou próximo dele no hemisfério sul. Lughnasadh é também conhecido como Lammas (Lê-se "lamas") ou Festival da Primeira Colheita. Dia sagrado no paganismo, tendo origem principalmente Celta. Celebrado no dia 2 de Fevereiro no hemisfério Sul e no dia 1º de Agosto no hemisfério Norte.

Na Igreja Católica Julho é dedicado ao Preciosíssimo Sangue de Jesus (reverência ao sangue de Jesus derramado na cruz e também em alusão ao sangue de Cristo na Eucaristia).

1 comentários:

Sarinha disse...

Gosto das suas garotas, elas ão independentes sem perderem a feminilidade ^^