KAFKA 2.0 - A METAMORFOSE DA INDIVIDUALIDADE.

quinta-feira, junho 07, 2012 Marcos Henrique de Oliveira 0 Comments


"TUDO O QUE VOCÊ IMAGINA É REAL" - Pablo Picasso

Seria tentador usar este espaço para escrever um artigo denso e quase acadêmico sobre Franz Kafka (1883 — 1924), um dos maiores escritores de ficção da língua alemã do século XX. Mas a ideia aqui é aproximar o autor daqueles que nunca leram suas obras e permanecem no escura angústia da transformação da adolescência para maturidade ou das vontades internas em briga constante com o mundo lá fora. Para quem se encontra neste momento, a vida e os romances de Kafka podem ser reveladores.

Eis um resumo super-rápido:

A Colônia Penal (1914) - fala sobre uma máquina que tem o poder de executar sentenças, torturar e matar pessoas, sem que estas sequer saibam o porquê de sua morte;
A Metamorfose (1915) - Um homem acorda transformado em uma barata (isso, mesmo!);
O Processo (1925) - Um homem acorda (de novo!) certa manhã, e, sem motivos conhecidos, é preso e sujeito a longo e incompreensível processo por um crime não revelado;
O Castelo (escrito em 1922 mas lançado somente após a sua morte, em 1926) -  Um homem é chamado por um conde de um local não especificado para prestar seus serviços. Contudo, por mais que tente, não consegue entrar no castelo;

Acredito que você já percebeu que Kafka descreve a luta do Homem (olha o "H" maiúsculo aí) contra uma sociedade opressiva, burocrática e hostil ao crescimento individual e pensamento livre. Sem muito esforço de comparação, esta poderia ser a definição de qualquer adolescente entre 14-21 anos ou mesmo aquele momento de crise que atinge as pessoas entre os 28-35 anos, no salto para vida socialmente determinada como "adulta". Seria bom se fosse assim...mas não é.

O relacionamento de Kafka com seu pai (um "grande empresário egoísta e arrogante", segundo o escritor), sua origem (era judeu tcheco) e a sociedade da época (arcaica, tradicional e tensa pela Segunda Guerra Mundial) contribuíram para que Kafka seguisse um caminho de sequentes frustações profissionais e pessoais que quase privaram o mundo de uma retrato único para o entendimento da individualidade. Aqui aparece o valor de um grande amigo: Max Brod (1884 - 1968) não atendeu o pedido de Kafka (destruir todos os seus escritos, após sua morte) e publicou várias de suas obras.

Este é o momento de "linkar" tudo isso para você. Ao ler Kafka, vamos perceber que tudo mudou e, ao mesmo tempo, continua o mesmo. O que mudou? A sociedade e os meios de comunicação. O que continua o mesmo? A vontade humana de realizar algo individual, personalizado, único. 

Para os adolescentes, a transformação pode ser a mesma de A Metamorfose e gerar a sensação de ser um "bicho estranho" que não se encaixa na mente e no corpo, na mudança da voz, no crescimento de pêlos e membros. Ou pode ser o medo do vestibular (passaporte para profissão) e o primeiro emprego (símbolo da independência financeira). Em termos mais graves, pode ser a bulimia ou anorexia (perda do controle emocional do corpo). 

Para quem já "se considera" adulto, a transformação pode aparecer como uma acusação de bom desempenho social e as cobranças de comportamento e status que ainda não foram alcançados ( A Colônia Penal, O Processo, O Castelo). Isso pode aparecer em uma mudança de carreira, casamento ou mesmo separação. Basta ler e comparar.

Em resumo, ler Kafka pode aproximar você de um entendimento maior sobre o que está acontecendo sem todo esse peso que tenciona o seu crescimento porque você não é o único que está passando por isso. E, por este ponto de vista, é uma leitura que proporciona alívio e cura. Sério.

Um dos papéis da Literatura Universal, eu acredito, é o de compartilhar experiências transformadoras. Se as pessoas lessem mais os grandes autores, leriam menos livros de auto-ajuda (urgh!) e tomariam menos remédios para pressão, para dormir ou para se sentirem felizes. Talvez esta seja a sua chance. Leia Kafka e compartilhe com seus amigos. Tudo o que você imagina é real. Mas o Real pode não ser como você imagina. Até a próxima.

 "Quem conserva a faculdade de ver a beleza não envelhece." - Franz Kafka


Kafka on Line

A METAMORFOSE - O Livreiro http://bit.ly/L7eI08









Um Artista da Fome ( The Hunger Artist, 2002) é um conto de Franz Kafka publicado em 1922. Curta em stop-motion de Franz Kafka. O filme durou quatro anos para ser realizado. Prêmio de melhor curta de Slamdance pelo público no mesmo ano. Fonte: cinefilosconvergentes




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