DIA DOS NAMORADOS E O AMOR QUE NÃO SE ENXERGA (NA CRISE)

segunda-feira, junho 12, 2017 Marcos Henrique de Oliveira 0 Comments


"O amor, esse sufoco,
agora a pouco era muito,
agora, apenas um sopro.
Ah, troço de louco,
corações trocando rosas
e socos"

Paulo Leminski

O Amor é uma presença constante aqui no AGE, pelo menos no sentido filosófico do termo porque Amor não se explica. Amar é uma necessidade tão biológica quanto o sexo (que é uma das expressões do Amor mas não o Amor em si) ou beber e comer. 

Porém, assim como qualquer outra compulsão, amar demais pode ser prejudicial, perigoso e até mortal para todos nós. E amar de menos, a própria morte em vida. Ainda pior do que estas duas opções, amar "mais ou menos" é o grande paradigma dos tempos modernos, onde a necessidade da "expressar e sentir tudo" (Ego Inflado, narcisismo) tornou-se uma prioridade. Com tanta gente "se amando" nas Redes Sociais e afins, ainda existe espaço para amar o outro?

E, afinal, o que você ama de verdade?


A frase, "O Amor é cego apareceu pela primeira vez na obra "The Merchant's Tale" de Geoffrey Chaucer, em 1405. Shakespeare repetiu o termo em diversas peças que escreveu e o sentido atual permanece o mesmo até hoje: quem ama, não enxerga: não enxerga os erros e os defeitos do seu "objeto de Amor" e nem os seus próprios. Novamente, este é um efeito biológico para garantir a reprodução da espécie.

Estar em "Estado de Amor" ou apaixonado, inibe certas áreas do cérebro para que a pessoa não freie sua busca pela reprodução. O termo "objeto de Amor" não é nada romântico e nem precisa ser porque a outra pessoa é vista mesmo como apenas um objeto para cumprir um mandato hormonal com base em critérios que vão da raça escolhida até o tamanho da pélvis nas mulheres ou o tamanho dos braços (desculpe se você pensou em outro membro) nos homens. Biologia não tem Cupido!

SEXO: A PROPAGANDA E PUBLICIDADE DO AMOR


Me cobrou um amor, que no momento eu só posso sentir por mim... Meu amor próprio, é tão grande que não cabe você! Caio Fernando Abreu
Amor vende. Sexo vende. De camisinhas até planos de saúde, Amor e Sexo se misturam nas intenções de compra e venda daquilo que é desejado para si mesmo ou para o outro. Uma pesquisa recente demonstrou que as pessoas estão comendo mais e transando menos. Stress, falta de grana e outros fatores sociais como cuidar dos filhos, problemas familiares, a falta de tempo, etc reduziram drasticamente o número de relações sexuais no mundo. Se encontrar o Amor que se idealiza (todo Amor é uma idealização de um modelo sonhado como perfeito) está difícil, encontrar o sexo está cada vez mais fácil

Tal facilidade transformou o Amor em um subproduto e elevou o Sexo a categoria de Dono do Pedaço. Amar é transar e vice-versa, principalmente entre os jovens, uma mentalidade que dificulta ainda mais a capacidade do Amor de ser visto e reconhecido pelo que ele realmente é: um projeto em eterno desenvolvimento. E como o sexo vende, tem muita gente comprando gato por lebre por aí. O Amor precisa de tempo, disciplina e cuidado. O sexo não. E dá-lhe brigas, separação e divórcios depois que cai a ficha. 

Tal como explicado pelo  sociólogo polonês Zygmunt Bauman em seus livros, o Amor e o Sexo agora são "líquidos", diluídos e solúveis. Eles não satisfazem totalmente e a pessoa volta para o "mercado" para buscar mais, assim como fazem quando falta comida ou bebida. Não admira o porquê de estarmos engordando tanto...



A famosa Pirâmide das Necessidades do psicólogo americano Abraham Maslow pode ajudar a entender a nossa perda de pertencimento com o passar dos anos. Maslow pesquisou o que fazia as pessoas se sentirem felizes e realizadas, enquanto os demais psicólogos focavam nas neuroses, fobias e complexos (como Freud, por exemplo). Chegar até o topo é um caminho que pede reflexão, um desafio que fica obscurecido quando estamos apaixonados e felizes. Isso não quer dizer que você precise se tornar um miserável e infeliz celibatário, calma lá. 

Apenas repare que o Sexo não faz parte da Pirâmide. O Amor, sim. A explicação é simples: o Amor é intangível, imaterial e não sólido mas pode ser duradouro. O Sexo é tangível, físico e material mas passa, sempre passa. É claro que isso seria uma propaganda horrível para o Dia dos Namorados, motéis, camisinhas ou qualquer outro produto que se queira vender.

Mídias Sociais e uma infinidade de aplicativos de relacionamento surgiram para "facilitar" o encontro com o Amor. Selfies e perfis sensuais com biografias supostamente perfeitas contam uma história de pura felicidade pessoal. Enquanto isso, na "vida real", milhares reclamam da solidão, da falta de companheirismo e da compatibilidade entre o que "se vende" e o que se entrega. Tem algo errado aí...

O AMOR QUE SE ENXERGA


Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito. - Clarice Lispector
Amor é um tema simples e complexo. Quem está em um relacionamento sabe disso e quem não está também. Amar é, ao mesmo tempo, pessoal e social porque amamos conforme a nossa época e momento no tempo. Não dá pra saber se Romeu se mataria com Julieta se tivessem uma conta no Facebook ou no Tinder. Em termos de Amor, nada pode ser definitivo porque, sem movimento e fluxo, o Amor simplesmente não existe.

A multiplicidade de escolhas e também de gêneros, torna o Amor algo praticamente impossível de ser escalado ou generalizado. O que temos é o comportamento social como seres humanos que nos leva ou afasta de uma direção. E as pesquisas disponíveis são como placas de trânsito que sinalizam o quanto estamos mais perto ou longe de "chegar lá" dentro da nossa autorrealização individual e com uma outra pessoa. E, pra ser sincero, nada além disso.

"Tem que gostar de mim como eu sou", "se não for do meu jeito, vaza" e outras frases ignorantes como estas, demonstram como estamos longe de entender o tempo e o dialogo que o Amor precisa. Tempo para entender que Amor também é conflito e busca (conjunta) por objetivos comuns, se eles podem existir quando o sexo e até o ciúme (sim, ele mesmo) acabam e por aí vai.


Já escrevi em outro artigo que paixão significa sofrimento voluntário. É uma entrega. Apaixonar-se é uma entrega, uma aventura misteriosa e desconhecida em direção ao autoconhecimento pelo conhecimento do outro. Para enxergar isso, talvez seja preciso sofrer um pouco, tirar aquela névoa de perfeição e felicidade arrebatadora que nos contagia no começo de qualquer relacionamento. Na verdade, o Amor só é cego se você quiser que ele seja. Uma dica pode ser querer menos e enxergar mais.

Que você, casado ou não, solteiro ou namorando possa tirar o melhor proveito das suas experiências amorosas, de todas elas. Se tudo passa (Amor, Felicidade, Juventude e a própria Vida), que a viagem seja a melhor possível, enquanto dure. Até a próxima!

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