PORQUÊ VOCÊ NÃO ESCOLHE A FELICIDADE E A MATRIX VIDA-AMOR-CONFLITO (UMA TEORIA)

sábado, abril 16, 2016 Marcos Henrique de Oliveira 2 Comments

 
Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho. - Thich Nhat Hanh

Uma pequena história, antes de começar: fui presenteado com péssimos, horríveis vizinhos que testam, diariamente, minha paciência Zen. É um casal com dois filhos pequenos que moram com a mãe da esposa. E eles gritam. Muito. Para qualquer coisa. Gritam entre si, com as crianças, com a vida. Não pense que estou me metendo na vida alheia, é possível escutar tudo porque esse "tudo" é no grito mesmo.

O homem (?) tem uma péssima relação com a mãe e o pai, a mulher (?) não suporta a condição de ser mãe. Ambos (e mais a avó), torturam psicologicamente as crianças com palavras do tipo "seu imbecil, porco, burro". A lição de casa é "ensinada", aos berros, dessa forma. As punições variam entre não jogar videogame ou ficar sem comer ou sozinho no quarto.

É sério, já pensei até em denunciar. O filho menor parece que já apresenta problemas de fala. O mais velho (algo entre 7 e 9 anos) brinca sozinho (quando deixam), é desafiador (quando pode) e posso afirmar que guarda uma raiva imensa que um dia será lançada no mundo contra todos ou contra alguém. 

Por isso que só consigo escrever de madrugada. Às vezes, porque quando o menor chora, eternos minutos se passam antes que alguém se preocupe em olhar pela criança. É uma história real, juro.

A pergunta que fica para iniciar esse papo é: esse casal e essa avó (?) merecem a felicidade? E nós, merecemos? Todos merecem?


Fui atrás de artigos e mais artigos sobre Felicidade, explicações científicas do cérebro, leituras budistas, crentes e religiosas em geral, frases de grandes pensadores e tudo mais. Foi engraçado descobrir que a maioria trata a Felicidade como uma "coisa" quase palpável, algo que podemos comprar ou pegar e guardar em um cofre pra ninguém roubar. Achei bem estranho.

Descobri também que a Felicidade pode ser usada como um marketing de atração poderoso para que a pessoa entre em uma religião, seita, pirâmide de negócios, etc. Muitos inverteram o processo onde a Felicidade é que trás o Amor e não o contrário. Outros ofereciam cursos sobre a Felicidade como se ela pudesse ser aprendida pra gente nunca mais esquecer. E mesmo com tudo isso, a maioria insistia que a Felicidade  é de graça, acessível para todos e muuuuito fácil de se obter.

Fiquei bem triste em saber disso tudo. Afinal, acredito eu, a Felicidade não se compra :)


Vou compartilhar o que aprendi com essa pesquisa toda:

A Felicidade não existe
Isso mesmo, não existe. A Felicidade não é material, orgânica, virtual ou o que você quer que seja. Ela é temporal, temporária e circunstancial. Pode durar menos do que uma barra de chocolate e mais do que uma vida. Ela some e aparece. Lide com isso e siga em frente.

A Felicidade não é o Outro ou os Outros
Você pode e deveria aproveitar toda Felicidade que puder ao lado da família, amigos, amores, etc. Só que nenhum deles é fonte da sua Felicidade, eles são catalisadores. Se um pingo de Felicidade não habitar em você, esqueça. 

A Felicidade não é uma Religião
Qualquer religião continua no papel de catalisador da sua Felicidade. Perigo maior é criar a ilusão de que a religião vai te fazer plenamente feliz. Encontrar apoio para os problemas da vida na religião é uma coisa. Achar que vai ser feliz somente com isso, é outra bem diferente.

A Felicidade não é Amor
Longe disso. Amor e Felicidade são complementos um do outro e podem existir separadamente. Isso se estamos falando sobre o Amor que vem do outro. Agora, Amor-próprio e autoestima, estes sim podem fazer parte da Felicidade.

A Felicidade precisa ser uma escolha
Existem tantos problemas no mundo quanto pessoas que conseguiram superá-los. A todo o momento aparecem histórias de superação da pobreza, fome, doenças hereditárias, sobreviventes das guerras, etc. São todos seres humanos como eu e você. Se eles podem escolher entre a tristeza e a felicidade, você também pode. Se é fácil? Não. Mas os fatos demonstram que é possível.

A Felicidade dos outros não precisa ser a sua
Ser feliz em grupo é uma forma de ser aceito e mantido dentro do grupo mas não uma regra. Dizer como você deve ser feliz é um erro social. Não existe um modelo e sempre vale a pena lembrar que a sua Felicidade e como quer que ela seja, é pessoal e personalizada. Não existe Felicidade clonada, certo?


A MATRIX VIDA-AMOR-CONFLITO

Eu acredito que, em algum nível, todos sabem o que descrevi acima. A questão é que somos, enquanto seres pensantes, muito carentes e preguiçosos (eu também me incluo nessa). Cada vez mais, nos tempos atuais, queremos ganhar as coisas sem levantar um dedo para isso (ou apenas clicando com esse dedo). Dentro de um sistema totalmente egocêntrico, todos nos achamos bons e merecedores da tal Felicidade ou de qualquer outro Bem como o Amor e a Prosperidade. Por quê?  

Um tema sempre recorrente quando se debate sobre Felicidade e Amor é a questão do merecimento. Já que a grande parte da população (ainda) se apresenta católica/crente, convivemos com a ideia inconsciente do pecado e da redenção. Como em um sistema pavloviano, adquirimos um reflexo condicionado para recompensa, ou seja, queremos algum prêmio por sermos honestos em um mundo desonesto, educados em um mundo sem educação e pacíficos em um mundo cercado de violência. Na Teoria, todos esses valores seriam a recompensa em si mas isso não basta: queremos ser reconhecidos e recompensados por sermos aquilo que o processo evolutivo natural pede de nós (ou de alguns de nós). Queremos tudo de bom e mais um pouco.


A Felicidade faz parte desse contexto como algo, não apenas desejado, mas exigido. A demanda vem na forma de tudo o que já é conhecido em um sistema consumista: queremos mais dinheiro, sexo, amor, bens materiais, propriedades, status social, sucesso e até mesmo a inveja daqueles que não têm o que temos. Ah, você não quer inveja? Então pare de postar tantos Selfies e Braggies (leia sobre, neste link) sobre o quanto a sua vida é legal, ok? Aliás, nós todos sabemos que não é bem assim.

Em outra vertente, não ter a Felicidade que se deseja não é ser infeliz: é ser vazio. Se o seu "Pacotão da Felicidade" inclui os itens descritos acima, então a coisa vai ficar difícil pro seu lado. A insatisfação faz parte do processo evolutivo para manter a sobrevivência da Raça Humana. Ficar satisfeito é ficar parado, inerte e sem  a chama pela curiosidade e pela descoberta. Buscar o melhor é o que (deveria) nos fazer melhores, segundo a Natureza. Parece que nos perdemos no caminho. Ou será que não?

A nossa felicidade depende mais do que temos nas nossas cabeças, do que nos nossos bolsos. - Arthur Schopenhauer
A Teoria Vida-Amor-Conflito vem de um estudo sobre a falta de satisfação das pessoas. É mais ou menos assim: conforme a sua (a) educação (b) condição social (c) Local de Nascimento (d) genealogia/pai e mãe/etnia, você está predestinado a incorporar necessidades do ambiente, origem familiar, país, etc. Até certo ponto, não existe nada que você possa fazer sobre isso. Sim, eu sei que se você é um adolescente ainda, vai achar que pode. Sinto muito, não pode. Foi mal mas é desse jeito que a Natureza funciona.

Isso quer dizer que você vai procurar, em parte, seguir as mesmas coisas que os seus antepassados queriam e até desejavam para se sentirem felizes. Ainda não encontrei alguém que se sinta feliz morando no lixo ou namorando um porco-espinho. Queremos, basicamente, o que tudo mundo quer. O problema é que queremos somente para nós (olha o conflito aê, geeete!). Querer a Felicidade pessoal não é pecado mortal ou egoísmo, caso não prejudique ninguém. O que nos leva a história dos meus "amados" vizinhos lá de cima:

Você não vai encontrar a Felicidade sendo um miserável infeliz e desejando o que o outro tem (e que você acredita que seja Felicidade). Você não vai encontrar a Felicidade reclamando sobre tudo, todos os dias. Você não vai encontrar a Felicidade, lendo este artigo, reclamando do emprego que tem, que não tem, do amor que tem ou que não tem. Você não vai encontrar a Felicidade, procurando a Felicidade.
Nem Feliz, Nem Triste mas Vazio é um estágio da meditação que serve para descobrir qual é a sua com a sua satisfação (e já vou avisando que não funciona pra todo mundo, principalmente para os ansiosos). É diferente da Satisfação preguiçosa lá de cima. A Satisfação pelo Vazio (ou esvaziamento) é aquela onde você não foca naquilo que falta mas naquilo que tem. Sim, você já ouviu um monte de frases-feitas sobre isso mas o processo é diferente, me acompanhe mais um pouco.

Você foca no que já tem e também começa a se desfazer disso. Você pode começar com os bens materiais e depois partir para conceitos, crenças e pensamentos diversos. Preciso disso? Preciso daquilo? Se for material, doe, venda, presentei, o que achar melhor. Se for conceitual, descubra se essa ideia te faz melhor ou te atrapalha

Meus vizinhos sofrem de um efeito condicionado de se acharem merecedores de algo bom, enquanto continuam agindo diretamente contra o que poderia atrair mais Felicidade e Prosperidade. São mais vítimas do efeito Vida-Amor-Conflito do que culpados mas isso não exclui a responsabilidade  deles pela mudança. Infelizmente, nem todos podem mudar ou se transformar a tempo. Novamente, a Natureza é quem manda. E, provavelmente, eu vou continuar escrevendo de madrugada. :(

A Felicidade é e continua sendo uma escolha. Uma escolha que precisa ser feita no vazio que você escolhe e não quando a Vida-Amor-Conflito tira algo de nós. Ou quando deixamos nosso ego consumista de vontades e desejos tomar conta de nós. Percebe o trabalho que temos pela frente? Eu o meu, e você o seu.

A Felicidade não existe. Então, vai lá criar a sua. E até a próxima!

Ps.: a base deste artigo surgiu de outro artigo chamado "Happiness: A Choice We Make" que você encontra aqui.

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2 comentários:

"No cultivo da alegria, não esqueça todo dia, não julgar, não ferir, só amar, elevar e sorrir!" Oranice Lisboa

Agradecido pelo seu comentário. O resumo do artigo seria esse:

"Tenho visto as pessoas tornarem-se freqüentemente neuróticas quando se contentam com respostas erradas ou inadequadas para as questões da vida. Elas buscam posição, casamento, reputação, sucesso externo ou dinheiro, e continuam infelizes e neuróticas mesmo depois de terem alcançado aquilo que tinham buscado. Essas pessoas encontram-se em geral confinadas a horizontes espirituais muito limitados. Sua vida não tem conteúdo ou significado suficientes. Se têm condições para ampliar e desenvolver personalidades mais abrangentes sua neurose costuma desaparecer."
Carl Jung

Sorte, saúde e prosperidade. E continue com o AGE :)