O INFERNO SÃO OS OUTROS E O SATRE DESCONHECIDO
Não tenho a pretensão de explicar Satre para você. Isso seria uma loucura egocêntrica da minha parte. Porém, ao conhecer Satre e sua obra, talvez você comece a entender alguns mecanismos que invadem a sua vida neste momento mundial de angustia pelo futuro incerto e o presente inconstante. Considerado como o grande divulgador do Existencialismo, Satre é o cara na hora de tentar colocar as suas ideias em ordem sobre estar aqui e existir como um ser humano que, não apenas "está", mas que também atua e participa ativamente do mundo no qual está inserido em todos os níveis (físico, mental, emocional).
Jean-Paul Charles Aymard Sartre (Paris, 21 de junho de 1905 — Paris, 15 de abril de 1980) tinha essa capacidade inata de traduzir conceitos difíceis da filosofia para as massas. Chamado de "intelectual engajado", forjou seu conhecimento em instrumento de ação política que tira o sábio da caverna e o leva para as ruas, para o pensamento cotidiano. Nosso "pensar" nos dias atuais não seria possível sem Satre, já que o próprio conceito de formular ideias pessoais ainda resulta em um processo difícil para grande maioria. Isso porque pensar nos faz refletir e a reflexão pode gerar dúvidas, conflitos e confusão.
É nesse contexto que toda filosofia aparece: não para fornecer respostas prontas, mas como o fio que leva a pessoa para fora do seu labirinto de ignorância. E feito isso, novos labirintos aparecem para o desenvolvimento do pensamento individual.
É nesse contexto que toda filosofia aparece: não para fornecer respostas prontas, mas como o fio que leva a pessoa para fora do seu labirinto de ignorância. E feito isso, novos labirintos aparecem para o desenvolvimento do pensamento individual.
A famosa frase "O Inferno são os Outros" faz parte da peça "Entre quatro paredes", escrita por Satre em 1944. Na peça, de apenas um ato, três homens morrem e são condenados ao inferno que nada mais é do que um quarto vazio. Sua penitência é passar a eternidade convivendo uns com os outros. Para Satre, o Homem não pode se conhecer totalmente sem a participação do outro. "O ser Para-si só é Para-si através do outro".
Somos, em última instância, iguais. Porém, como cada pessoa tem um projeto diferente para própria vida, nossa essência permanece inacessível pelo conflito. É nesse mesmo conflito existencial que as respostas sobre quem você é aparecem, espelhadas nas atitudes mais alheias de outros seres humanos.
Para Satre, somos sou um eterno "tornar-me", um "vir-a-ser" que nunca se completa porque o "outro" nunca poderá ser entendido em sua plenitude, já que o outro também é você.
Em uma sociedade mais interessada verdadeiramente na educação de seu povo, Satre poderia estar no para-choques de qualquer caminhão, assim como Friedrich Nietzsche, Martin Heidegger e Albert Camus, filósofos de base existencialista que presentearam o mundo com novos modelos de pensamento fora do ordinário.
"A existência precede a essência", escreve Satre sobre a nossa falta de atenção ao estado de ser antes de tornar-se. Queremos o sucesso, a fortuna, o prazer e a preguiça do existir sem crescimento pessoal. Ganhar na loteria, ser amados sem questionamentos, entendidos como completos e perfeitos com todas as batalhas vencidas.
No simples questionamento de "por quê mereço isso?" pode estar a chave que abre uma nova proposta de existência mais completa e próxima do que seria a sua real essência.
Nossas escolhas tornam-se cada vez mais complexas ou simples com o passar do tempo, tudo depende do que se quer. Ao contemplar a existência apenas como um palco para realização de nossos desejos, podemos passar a vida pulando de um desejo para o outro, sempre insatisfeitos e infelizes.
"O homem não é a soma do que tem, mas sim a totalidade do que ainda não tem, do que poderia ter." Ao ler Satre (mesmo que apenas suas frases de caminhão) podemos descobrir que temos até mais do que precisamos. Pelo menos até a chegada do desejo seguinte.
Até a próxima!
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