AGUIRRE, A CÓLERA DOS DEUSES - O CIVILIZADO SELVAGEM DE KLAUS KINSKI NO CULT DE WERNER HERZOG.
Como prometido, vamos iniciar a seleção dos 100 melhores filmes de todos os tempos, escolhidos pelos críticos de cinema Richard Corliss and Richard Schickel para revista Time. E nada melhor do que começar com um filme clássico e cult alemão do cineasta Werner Herzog.
Para quem só assiste filmes americanos, é bom lembrar que o ritmo dos filmes estrangeiros é bem diferente. Mais ainda, a falta de efeitos especiais e uma narrativa linear (que não insulta a inteligência do público) faz parte da categoria das grandes obras cinematográficas do passado. Não é à toa que O Artista (The Artist, 2011) levou o Oscar este ano. Para curtir, é melhor se acostumar.
Gosto da definição da Wikipédia para obra de Herzog: "Os seus filmes contêm sempre heróis com sonhos impossíveis ou pessoas com talentos únicos em áreas obscuras." Em Aguirre, a cólera dos Deuses (Aguirre, der Zorn Gottes, 1972), o herói de talentos obscuros é o esquisitão Klaus Kinski que incorpora Don Lope de Aguirre, um ambicioso aventureiro em busca da cidade lendária do El Dorado na floresta amazônica. Seria legal você conhecer mais filmes de Kinski (1926-1991), um ator alemão de traços fortes que presenteou a humanidade com sua filha Natasha Kinski, a lolita de muitos marmanjos na década de 70.
A filhinha do papai Kinski. |
Essencialmente, Aguirre é um filme sobre ambição e loucura. A fantasia heróica dos conquistadores espanhois (e brasileiros também) que lemos nos livros de história, o bom mocismo dos desbravadores e toda aquela honra pioneira, sucumbem a realidade de calor insuportável, mosquitos e malária de qualquer selva. Difícil acreditar que alguém entraria em um "inferno verde" destes, movido por valores morais. O lance é grana mesmo ou, neste caso, uma cidade de ouro.
Aguirre pode ser visto como uma fábula de regressão para o estado selvagem do ser humano. Ao lembrarmos que soldados já guardam dentro de si uma agressividade treinada, basta um pequeno gatilho para máscara cair. E não importa se isso acontece no séc. XV ou no meio do trânsito. Herzog explora os processos pelos quais um modelo social aculturiza o outro, seja religiosamente ou por meio da força. É diferente da assimilação:
"Aculturação é um termo criado inicialmente por antropólogos norte-americanos para designar as mudanças que podem acontecer em uma sociedade diante de sua fusão com elementos culturais externos, geralmente por meio de dominação política, militar e territorial (...) Ocorre A maioria dos autores acreditam que a aculturação é sempre um fenômeno de imposição cultural." - Wikipédia, saiba mais
Alguns críticos de cinema colocam Herzog no grupo dos cineastas que iniciaram o Novo Cinema Alemão entre as décadas de 60 e 70, período da Guerra do Vietnã (1959-1975) e diversos outros conflitos com ideias de renovação de um sistema social (inclusive de esquerda), liberdade, volta à Natureza e a semente do movimento ecológico. Em resumo Aguirre nasceu em um momento de contestação de valores. Só por isso, já vale o tempo de exibição.
Minha dica é assistir ao DVD da edição especial que vem com um documentário sobre o diretor e muitos extras. Para uma crítica mais formal, veja aqui.
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