12 CONTOS - AGOSTO
Guta olhou para o espelho como se este fosse sua melhor amiga. Não era. A imagem que via de si mesma, mais parecia a de uma louca. Os olhos avermelhados ainda guardavam a lembrança das lágrimas derramadas na noite anterior. Parecia que nenhuma escova teria coragem de chegar perto daquele monte de cabelos desgrenhados. E para piorar, estava menstruada. Nenhuma garota deveria ficar menstruada logo após o término de um namoro. Era injusto, muito injusto.
Seu corpo estava dolorido, não por cansaço, mas por dormir até as quatro da tarde. Faculdade, nem pensar. Era muita gente para o vazio que sentia na barriga. Deu graças a Deus por seus pais trabalharem e poder ficar sozinha em casa. Guta, a filha única, a estudante "nerd" de notas altas, a do sorriso fácil e conversa divertida. Guta, onde foi parar essa garota agora?
Se estivesse a fim de ser sincera, ela pensaria que todos os sinais já existiam e foi ela quem resolveu ignorá-los. Não é o que todo mundo faz quando não quer perder alguém? Menos conversa, mais sexo. Menos momentos sozinhos e a mesa mais cheia de amigos. Conversas monossilábicas pelo telefone e a desculpa de estar cansado, dia duro, essa merda toda. Saco de vida que precisa sempre provar que estamos errados em não ser sinceros com a gente. Saco. Saco. Saco.
Guta não queria escrever no seu blog, não queria mudar seu status no Facebook nem receber mensagens de consolação pelo celular. Tristeza não é assunto pra rede social. Pelo menos, não deveria ser. Folheou algumas revistas femininas e só encontrou dicas idiotas como "dar a volta por cima", "sair pra balada" e todas aquelas coisas que alguém faz quando está perdido. Preferiu alimentar seu gato.
Guta aprenderia, meses mais tarde, que é assim mesmo. Seu amor dolorido virou uma cicatriz do passado e o destino trouxe outro. Ela descobriu como esperar e ficou surpresa por não ter demorado tanto. Passou a prestar mais atenção nas armadilhas que desgastam uma relação e principalmente, passou a prestar mais atenção em si mesma.
Meses mais tarde, Guta sorriu de novo. E também ficou menstruada. Mas isso não tem importância nenhuma pra história.
Agosto, do latim Augustus, é o oitavo mês do calendário gregoriano. É assim chamado por decreto em honra do imperador César Augusto. Este não queria ficar atrás de Júlio César, em honra de quem foi batizado o mês de julho, e, portanto, quis que o "seu" mês também tivesse 31 dias. Antes dessa mudança, agosto era denominado Sextilis ou Sextil, visto que era o sexto mês no calendário de Rômulo (calendário romano).
Agradecimento especial para Thani Moraes pela foto que ilustrou este conto. Valeu, Thani!
7 comentários:
Adorei!
Como escreve bem esse Marcos! Haha... Parabéns, cara.
Não me deixe corado, Marcelo, rs. Você,a Thany, os leitores do AGE e do PSVSite fazem parte do meu alimento criativo de todos os dias. Lembre-se que o blog está de braços abertos para receber contos e artigos. Manda ver e boa sorte!
Bolas agora não tenho tido muito tempo para ler.
Por isso que é bom ter o AGE nos seus Favoritos: você pode ler quando puder. :) Abraços, Pedro!
Seré que toda mulher é menina-mulher? Rsrs... Este conto me lembrou um da Clarice Lispector!! Mto bom ^^
Legal seu comentário, Sarinha. Aguarde o fim do ano para ter todos os 12 contos em pdf para ler e guardar. :)
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