Editorial - Vida de Redator - Tá Confúcio, mas Floyd explica - A criatividade que não muda por Marcos H.

sábado, maio 21, 2011 Marcos Henrique de Oliveira 2 Comments

Meu primeiro contato com a publicidade foi lá pelos anos 80 como assistente de RTVC (Rádio, Televisão, Vídeo, Cinema) em uma grande agência. Algumas das minhas tarefas eram marcar o horário de inserção do produto do cliente no Show da Xuxa, preparar o "rolo" de comerciais da agência para apresentação (feitos em filme que você cortava com um estilete e unia com Durex) e coisas assim. Anos depois, fui descobrir que o meu verdadeiro trabalho era ser esperto, coisa que não fui nesta e em outras épocas.

Muitas agências depois, já como redator, muita coisa mudou e outras nem tanto. Ser "esperto" hoje tem vários significados, sendo que um deles pode ser "antenado", ligado no que acontece em torno da sua profissão, do produto e da mídia do cliente. Por outro lado, vícios pré-históricos continuam grudados no perfil da maioria das agências como chegar cedo e sair tarde, deadline apertado e, nas mais assustadas, a ideia de que o cliente sempre tem razão (afinal, é ele quem paga as contas). As agências ganharam o status de grife, os profissionais de "criativos" e a propaganda pediu divórcio da criação espontânea e foi namorar o "business" que tem um belo carro, não anda a pé e não passa fome.

Sem ingenuidade: Arte é Arte (que também é negócio) e Propaganda é negócio que usa e abusa da Arte. Mas é cansativo ver tantos comerciais "engraçadinhos", tantos efeitos especiais em detrimento de um bom texto, uma boa ideia. Gerações de novos profissionais estão sendo deseducadas (principalmente redatores), achando que propaganda é garantir a risadinha do consumidor ou satisfazer o ego e o bolso de clientes que, na verdade, não sabem o que querem. Fiquei meio Confúcio e fui consultar o Pink Floyd para descobrir o porquê da propaganda atual resolver seguir um caminho tão "raso" em comunicação.
  
Confúcio é o nome latino do mestre, filósofo e teórico político chinês Kung-Fu-Tse (literalmente "Mestre Kong") e uma das figuras históricas mais conhecidas da China antiga, cuja filosofia enfatizava a moralidade pessoal e governamental, a exatidão nas relações sociais, a justiça e a sinceridade

O Pink Floyd você conhece: foi um dos grupos de rock progressivo mais influentes na história do rock que surgiu lá pelos anos 60 com o  lendário Syd Barrett nos vocais (substituído primeiro por Roger Waters e novamente, depois, por David Gilmour). Tenho certeza que você já ouviu pelo menos uma música do The Dark Side of the Moon (1973), Wish You Were Here (1975), Animals (1977) ou do The Wall (1979).

Confúcio é o autor de uma das frases pedagógicas mais exemplares para quem deseja seguir a carreira de publicitário:

Conte-me e eu esqueço. Mostre-me e eu apenas me lembro. Envolva-me e eu compreendo.

Syd Barrett, a alma adormentada por trás do Pink Floyd, não fica atrás:

Eu não acho que seja fácil se definir. Eu tenho uma mente dispersa. E eu não sou nada que você pensa que eu sou.

Confúcio e Barrett tem muito em comum: Barrett foi um guitarrista inovador, um dos primeiros a explorar completamente as capacidades sonoras da distorção e especialmente da recém desenvolvida máquina de eco nos anos 60. Confúcio lutou contra um sistema feudal e separatista de castas, contra a mediocridade do Homem e da sociedade. Ambos não abriram mão do sonho de fazer algo sempre diferente, inusitado e, principalmente de acordo com uma visão própria da vida. Eram uns provocadores.

O caminho para renovação da propaganda mundial, na minha opinião, está em você que é da "Geração Y" e nas Redes Sociais. Não por todo esse barulho sobre as novas mídias e tal. Nenhum canal de expressão novo pode mudar uma mente estreita e formal. O i-pad não tornou as pessoas menos idiotas. O Twitter não deixou você mais inteligente. Como diz um outro meste, Washington Olivetto:

Todos querem saber qual mídia deve ser utilizada, mas poucos se preocupam com a ideia que vai aparecer nessa mídia. (...)A grande maioria das pessoas que usa Twitter não sabe escrever longo o que é fácil, imagine escrever curto o que é difícil.

Sacou? É o profissional que deve amadurecer para que a ferramenta seja realmente catalizadora de um processo inovador. "Don't be Stupid" como uma recente campanha de jeans deseja que você se torne. Não ache tudo "cool" e legal só porque foi feito por uma agência de grife. Questione. Atravessar o truque de fumaça e espelhos que distraem o novo profissional de PP é o maior desafio de quem está se formando ou no seu primeiro estágio em uma agência.

Este artigo está ficando longo demais e você já entendeu. Mude a criatividade que não muda. Criação é movimento (atividade). Não é preciso uma grande revolução contra quem quer que seja, essas besteiras de levantar bandeira. Apenas seja você, seja lá o que você acredita que é. E mude de forma constante e inteligente o seu processo criativo.

Por favor, discorde de mim. Ou me ajude a concordar com você por meio de argumentos que não envolvam grana, alpinismo social ou essa mentalidade de que "somos todos líderes". Aguardo o seu comentário.

Você pode ler mais sobre Confúcio e Syd Barett nos links abaixo. Boa sorte, continue esperto. E antenado.

Confucius - A Batalha pelo Império (2010)
A História do Pink Floyd e Syd Barrett 
Reclame - Comercial preferido de Washington Olivetto

Reclame - Entrevista com Washington Olivetto - parte2 (essencial)

Ps.: Repare nos comerciais: a ideia sempre vem em primeiro lugar.

Fontes:

Sobre o Autor:
Marcos H. de Oliveira Marcos H. de Oliveira é redator freelance de publicidade e propaganda e consumidor voraz de livros, música, cinema e arte. http://twitter.com/agentescreve

2 comentários:

Legal seu blog, diferente!
Passei para dar-lhe as boas-vindas á Cia dos Blogueiros.
Abração!

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