Luz Maior - A Hora da Estrela da obra de Clarice Lispector
Minha relação com a obra “A Hora da Estrela” é engraçada e estar aqui te contando isso é ainda mais. Eu li a obra duas vezes e ainda assim não consegui entender a mensagem que ela queria passar. Foi numa sala de cursinho, em 2003, juntamente com inúmeros “preguiçosos” e inimigos da leitura (meus colegas) que compreendi essa maravilhosa obra-prima de Clarice Lispector.
Escrevi “inimigos da leitura”, porque não foi lendo que compreendemos a obra e sim assistindo. Em 1985, oito anos depois de ter sido escrita, a obra foi adaptada para o cinema, marcando a estreia de Suzana Amaral. Depois de ter assistido o filme, tive a curiosidade de ler o livro, mais uma vez, antes de fazer um simulado proposto pelo curso e o resultado foi bastante proveitoso!
A história é narrada por um homem, inventado pela autora. Este homem, Rodrigo S.M. mistura-se na narrativa e apresenta-se também como personagem, contando a história da protagonista: uma jovem nordestina vivendo no Rio de Janeiro. Macabéia era pobre e “de tão pobre só comia cachorro-quente”.
Uma menina alagoana de uma vida tão miserável que chega a deixar o narrador impaciente, mas com uma certeza (que não era só dele) :“com esta história eu vou me sensibilizar, e bem sei que cada dia é um dia roubado da morte”. É de cortar o coração pensar nas muitas Macabéias que estão por aí, sofrendo com a ingratidão de suas vidas.
A Hora da Estrela foi o penúltimo romance e último livro publicado em vida por Clarice Lispector, o que deixa a personagem ainda mais parecida com a autora: a coincidência da morte, da hora da estrela. O filme de Suzana Amaral assume uma fidelidade incrível com a história e não só transmite, mas confirma a energia da mensagem que ela quer passar.
Para quem já leu o livro fica fácil identificar no filme, três pessoas em um só personagem: o narrador, Clarice e Macabéia, vivida por Marcélia Cartaxo, no filme. Isto pode não ter sido de propósito, mas foi bem feito, já que em alguns momentos não se sabe quem ao certo está sendo representado em determinadas situações.
O filme apresenta um certo cunho social e provoca a reflexão a respeito da vida e da relação entre as pessoas, envolvendo jogos de interesses, falsidade, humilhação. Momentos da vida que qualquer pessoa pode passar, mas vividos de forma intensa e ao mesmo tempo frustrante por uma pessoa inocente e desprovida de sorte como Macabéia.
Apesar de todo o sofrimento que ela passava, (desde a convivência sofrida com sua tia, até a decepção amorosa com o nordestino Olímpio, personagem de José Dumont) sonhava em ser artista de cinema e alimentava este sonho por algumas vezes diante do espelho, mas morria ali aquele desejo. Ela não corria atrás de seus sonhos ou talvez não acreditasse neles. Quando ela acreditou que seria feliz e correria atrás desta felicidade...só assistindo para saber. Bom filme!
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