MEDIOCRIDADE E A GERAÇÃO DO "AMO MUITO TUDO ISSO"

sexta-feira, agosto 25, 2017 Marcos Henrique de Oliveira 0 Comments


A mediocridade é a arte de não ter inimigos. - Sofocleto
Uma das provocações que a Filosofia busca é o confronto com aquilo que se considera certo e absoluto, aquilo que pensamos ser inquestionável por já ter sido aceito por todos. Não se trata de perguntar se tal coisa é boa ou má, certa ou errada. Trata-se de perguntar o que ela representa para você

Na criação da dúvida e do questionamento (que não precisa, necessariamente, de uma resposta), desenvolvemos o pensamento dinâmico, maior habilidade para o debate e uma organização mais eficiente das ideias que defendemos. A proposta é sempre a mesma:

POR QUÊ (Motivação Emocional)
PRA QUÊ (Motivação Funcional)

A filosofia costuma ser, quase sempre, um ótimo antídoto para mediocridade, um tema complicado que sempre é confundido com o gosto pessoal ou ponto de vista. Em termos gerais, a mediocridade é o oposto da excelência, daquilo que existe de melhor na sua categoria. A mediocridade se estabelece sempre da média de alguma coisa, para baixo. Porém, a mediocridade é muito mais do que isso.

OS 3 GRAUS DA MEDIOCRIDADE


Segue parte de um ótimo artigo da revista Super Interessante (O ataque dos medíocres):

"Luís de Rivera, catedrático espanhol de psiquiatria, define a mediocridade como a incapacidade para valorizar, apreciar ou admirar a excelência, e distingue três graus:

Mediocridade comum: é a forma mais simples e inócua. Os seus sintomas são a hiper-adaptação, a falta de originalidade e uma normalidade tão absoluta que poderia ser considerada patológica: a chamada “normopatia”. Os que a manifestam não têm ponta de criatividade e não sabem distinguir a excelência, mas respeitam as indicações que lhes dão e são consumidores bons e obedientes. O conformismo permite que se sintam razoavelmente felizes.
Mediocridade pseudocriativa: acrescenta à anterior uma tendência pretensiosa para imitar os processos criativos normais. Enquanto o medíocre comum não se esforça para além do mínimo exigível, o pseudocriativo sente necessidade de aparentar e ostentar poder. A imagem é tudo para ele, mas, como não distingue o belo do feio, o bom do mau, não mostra inclinação para favorecer progressos de qualquer tipo e incentiva as manobras repetitivas e imitativas.
Mediocridade inoperante ativa (MIA) formam o terceiro grupo. Trata-se do mais prejudicial e agressivo, pelo que encaixa no perfil da maioria dos praticantes de assédio. Enquanto as categorias anteriores são simplesmente incapazes de reconhecer o génio, os MIA também se propõem destruí-lo por todos os meios ao seu alcance. O indivíduo afetado por esta síndrome desenvolve uma grande atividade que não é criativa nem produtiva, e possui um enorme desejo de notoriedade e influência. Por isso, tende a infiltrar-se em organizações complexas, nomeadamente as que já se encontram minadas por formas menores de mediocridade, com o objetivo de entorpecer ou aniquilar o progresso dos indivíduos brilhantes."

Vale dizer, somos todos medíocres em alguma área da vida. Você pode tratar sua saúde com mediocridade ou os estudos e mesmo o amor e seus relacionamentos. Isso não deveria ser um alívio para ninguém. Duas frases que estão na moda e fazem parte do pensamento medíocre e normalista são "é o que temos pra hoje" e "tá difícil pra todo mundo". É claro que o tom é de brincadeira. Até deixar de ser.

MEDIOCRIDADE SOCIAL

Tenho uma frase que sempre pula quando penso no senso comum: "Vamos comer m... porque 1000 moscas não podem estar erradas". Não existe a possibilidade de alguém discordar de você, se você concorda com todo mundo. O medíocre nunca entra em conflitos mas vai defender raivosamente o direito de ter um "gosto pessoal" igual ao de milhões. Não podemos esquecer que a mediocridade (assim como a pobreza e a falta de educação formal) é um mercado que movimenta milhões. Somos "educados" para sermos medíocres na escola, no trabalho e nas Redes Sociais em um modelo de marketing que funciona, mais ou menos, assim:


Destaco o motivo principal da mediocridade para o comércio: "As classes sociais inferiores não devem conseguir as ferramentas que necessitam para o crescimento social". A verdade doí, né? Calma, vai ficar pior.

A MEDIOCRIDADE COMO ESTILO DE VIDA

É muito chato classificar as pessoas por rótulos mas é o que fazemos, conscientemente ou não. Nesse caso, a propaganda é mais "honesta" porque coloca cada um de nós em um grupo de consumo e busca influenciar o que desejamos (ou não) consumir. O mesmo ocorre na política, na religião, no mercado de trabalho e nos relacionamentos. E a mediocridade oferece um verdadeiro Paraíso para nossas necessidades mais básicas. Exemplos: 

"Contanto que eu esteja satisfeito, não me importo de onde as coisas vem ou como são feitas."

"Não preciso ficar pensando ou analisando tudo. Isso é muito cansativo, a vida já é dura o bastante e eu tenho o direito de me divertir como posso." 

"Não tenho mais idade para mudar meu estilo e pontos de vista. Gosto de quem sou e pretendo continuar assim. Além do mais, isso não vai fazer diferença nenhuma para o mundo."

"Ficar parado, pensando nas coisas, é pra quem não tem o que fazer, gente que não trabalha duro como eu e não tem responsabilidades." 

Se você realmente acredita em alguma das frases acima, meus parabéns: você é um típico consumidor passivo de tudo que o mundo pode oferecer. Em outras palavras, você é medíocre.

ESPERTINHOS METIDOS A BESTA 



O mundo virou um churrasco na laje. - Luiz Felipe Ponde
A base da mediocridade é a massificação, onde a "massa" é qualquer coisa que possa ser misturada com outros ingredientes agradáveis para todos. Um produto massificado é aquele que atende as necessidades da grande maioria. Pode ser uma música, uma comida, um estilo de vida ou tudo junto. Os alemães tem um nome para isso: Kitsch.

 "(o) que se caracteriza pelo exagero sentimentalista, melodramático ou sensacionalista com a predileção do gosto mediano ou majoritário, e pela pretensão de, fazendo uso de estereótipos e chavões inautênticos, encarnar valores da tradição cultural (diz-se de objeto ou manifestação de teor artístico ou estético).

Em resumo, o Kitsch é o uso repetitivo de algo que funciona em termos de gosto popular e se disfarça de "cultura". A chamada "cultura popular" nada mais é do que uma resposta a cultura clássica que parece arrogante, difícil de ser entendida e metida a besta demais para ser aceita pela "massa". 

Como a raiz da palavra vem de "culto" (adjetivo que qualifica aquela pessoa que tem cultura, que é instruída, civilizada ou informada, que tem conhecimento sobre vários assuntos), o Kitsch serve ao grande público porque não "força" o entendimento mais profundo de nenhum assunto e ainda permite que o sentimento/objeto/produto seja consumido, sem exceção. Algo como "Monalisa? Claro que conheço. Eu tenho um quadro dela no meu quarto." Rapaiz...

MEDIOCRIDADE COMO ESTILO DE VIDA  


Sendo esmagado pela normalidade e pela mediocridade de qualquer sociedade na qual ele viver, o artista é uma contestação viva. Ele sempre representa o contrário da idéia que todo homem em toda sociedade tem de si mesmo. - Pier Paolo Pasolini
Não existe vitória contra a mediocridade, além da conquista pessoal de combate-la dentro de si mesmo. A mediocridade é uma instituição que serve e movimenta o mundo. Sem a mediocridade, você não teria dança de celebridades, inúmeros programas de culinária, revistas e sites de fofocas, pornografia, jornais sensacionalistas, certas propagandas e publicidade, comércio e por aí afora.

A mediocridade é aquele mal necessário que alimenta e satisfaz os desejos não atendidos de amor, poder, dinheiro, status e a relevância de existir. Na verdade, ser contra a mediocridade seria tão estúpido quanto ser medíocre. 

Porém, aceitar a mediocridade é muito diferente de viver em mediocridade, viver na média. Média é pão com manteiga e tudo mundo quer mais. A Cultura, via de regra, depende da Educação. Sem entrar na problemática do ensino no mundo, educar-se é um ótimo ingrediente contra a mediocridade. A escolha entre passar horas entre twitters e Intagrams alheios ou lendo Don Quixote é totalmente pessoal. Um equilíbrio possível, seria arrumar tempo para fazer as duas coisas.

A mediocridade não vai passar. Mas você pode passar por ela. Ou pode até virar presidente. A escolha é sua. Até a próxima!


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