EU COMO VOCÊ E O NATAL DA REVOLUÇÃO QUE NÃO HOUVE

terça-feira, dezembro 12, 2017 Marcos Henrique de Oliveira 0 Comments


Eu não te prometi que você ia ser mais feliz, mas sim que você ia sentir mais. - Wilhelm Reich

Pois é, amiguinhos e fieis leitores e leitoras, o ano de 2017 está acabando e muita gente está torcendo para que acabe rápido. Desemprego, inflação, crises mundiais, terrorismo, presidentes incompetentes em quase todos os países do planeta, escândalos financeiros e sexuais e muita, muita discussão sobre o empoderamento feminino, assédio e liberdade de gênero. Que ano!!!

Mas, não se engane: 2017 foi o ano em que descobrimos o poder das mídias para as questões sociais e a liberdade de pensamento (por mais ignorante, sem conteúdo e idiota que ele seja, certo, Mr. Trump?) Ei, foi você quem pediu por "democracia", então não reclame. Os Haters (uma das criações "democráticas" mais infantis do séc. XXI) vão odiar mas a verdade é que a Internet virou o oposto da "Aldeia Global" proposta pelo filósofo canadense Herbert Marshall McLuhan, em 1962.

Desde os twitters bizarros do Presidente Bozo dos EUA até as milhares de fake news compartilhadas entre memes e danças de famosos e novelas e pratos de culinária, 2017 foi um ano onde nossa atenção foi sequestrada, manipulada e distorcida como nunca antes. Foi tanta comunicação de massa que ficou difícil saber ou se importar com tudo o que ainda está ou estava acontecendo. Será que deu pra salvar algo de valor? Neste artigo, vou tentar focar em alguns dos movimentos mais relevantes de 2017 e algumas sutilezas que, talvez, você não tenha prestado muita atenção. Prepare-se para me odiar e vamos lá.

CONHECER NÃO É SABER, SABIA?


Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento? Onde está o conhecimento que perdemos em informações? -T. S. Eliot
Lembrando que vivemos em uma sociedade capitalista-egocêntrica (onde todo valor de capital, tangível e intangível é transformado em valor pessoal), pode ser difícil reconhecer que, na verdade, sabemos quase nada sobre muita coisa e muita coisa sobre quase nada. É que a Sabedoria seria, em resumo, a capacidade de lidar com uma grande quantidade de dados que seriam catalogados como informação (separando o que é relevante e útil do que não é) para, depois, transformá-los em conhecimento que seria aplicado de acordo com a situação. Sério, quem faz isso hoje em dia?

A grande maioria das pessoas sabe O QUE É alguma coisa mas não COMO É essa mesma coisa. Lida com suposições e não com a experiência prática. E a popularidade de alguns movimentos sociais emergentes, ao mesmo tempo que criam dados sobre o assunto, também ajudam a deixá-los mais confusos e erráticos. Escolher um assunto é deixar outro de lado. Se aprofundar em uma questão é esquecer tantas outras. Aceitar a própria ignorância, segundo os gregos, ainda é a melhor forma de criar uma opinião que se baseia apenas em dados e informações que chegam mais rápido do que podemos processa-las. Ninguém se importa ou possui o tempo necessário para entender tudo. Ei, é para isso que existem os computadores, cientistas e filósofos! 

Conhecer não é suficiente, devemos aplicar. Disposição não é suficiente, devemos fazer. - Goethe
O ano de 2017 foi o ano do "achismo" e do "pensamento culto de massa", ou seja, aquela frase que devemos comer m... porque 1000 moscas não podem estar erradas. Elas estão. E se você acredita que "a voz do povo" é a voz de algum deus, você também está. A ciência deu até um nome para essa falta de conhecimento, disfarçada de sabedoria: Efeito Dunning-Kruger, a tendência a superestimar nossas aptidões sociais e intelectuais. Vale a pena clicar no link e descobrir se você não precisa selecionar melhor as suas fontes de informação e conteúdo interno antes de se alistar para qualquer causa, por mais nobre que seja. 

A REVOLUÇÃO (SEXUAL) QUE NÃO HOUVE


Um amor, uma carreira, uma revolução: outras tantas coisas que se começam sem saber como acabarão. - Jean-Paul Sartre
Wilhelm Reich (1897 - 1957) foi um médico, psicanalista e ex-colaborador de Sigmund Freud que cunhou a expressão "revolução sexual", lá em 1936 (foi o título de um de seus livros sobre o orgasmo). Como diria uma cantora dos anos 80, "Você me abre seus braços e a gente faz um país", ou seja, o sexo vai muito além do ato entre duas pessoas (ou mais, se preferir) e se multiplica em questões que tocam toda uma sociedade e seus valores vigentes. Em termos simbólicos, quando você faz sexo com um, está fazendo com todo o mundo. Que sacanagem!

O ano de 2017 marcou o início de um olhar que ainda vai longe sobre a presença feminina na sociedade e sua valorização, o papel do homem como dominador/agressor (voluntário ou não) desses direitos e a descoberta de novos e diversos caminhos para expressão da própria sexualidade. Descobrimos palavras novas como Empoderamento, Identidade de Gênero, Transgênero e muitas outras. Isso não quer dizer que já entendemos em profundidade todas as ramificações dessas mudanças sociais. Muito pelo contrário, aliás.

As revoluções, como os vulcões, têm os seus dias de chamas e os seus anos de fumaça. - Victor Hugo
Todo processo revolutivo, começa pelo caos. É uma zona mesmo. Muitos falam, poucos escutam e nada se compreende. Via de regra, o Status Quo dominante ataca e questiona essa "nova ordem" enquanto alas mais jovens, sensíveis e influenciáveis da sociedade criam grupos, desenvolvem debates e vão para as ruas. E, no meio disso tudo, a mídia em geral busca capitalizar os conflitos com "informações" que servem para polemizar ainda mais o que já é polêmico e lucrar com isso. Esses são os "dias de chamas".

Acredite, nada mudou de verdade. Ainda não. Então é melhor não gastar toda a sua energia para uma longa caminhada que está só começando. Vá devagar e sempre.


Existem apenas dois tipos de manipulação: aquela que fazemos com nós mesmos e a que permitimos que os outros façam. Medos, fobias, complexos e desejos não satisfeitos podem moldar nossas escolhas pessoais e trabalhar no nosso inconsciente para "decidir" por nós. Grupos, partidos, órgãos governamentais, midiáticos ou religiosos podem usar suas necessidades em defesa ou ataque de uma ideia ou filosofia. Sendo claro, é o que eles fazem e sempre fizeram.

Lembre-se que tudo o que você (acha que) sabe ou não sabe, pode ser distorcido pelo Efeito Dunning-Kruger, suas necessidades de inclusão e afeto, aquilo que você deseja para si mesmo. Nada mais fácil do que ser corrompido por aquilo que você sempre quis. Fique esperto. 

PARA ONDE NÃO VAMOS EM 2018


Nessa encruzilhada do desejo e da necessidade, não deixes nada: não voltarás lá nunca mais. - Omar Khayyám, poeta, matemático e astrônomo persa dos séculos XI e XII.
A passagem de um ano e seus acontecimentos, depende da sua percepção do Tempo. Você não é a soma de 365 dias ou o resultado deles. Você não é um recém-nascido. Tecnicamente, toda pessoa está em contínua evolução de si mesma, sendo assim, a maioria dos resultados obtidos (ou não) no período de um ano, deveriam ser esperados. Mas, por outro lado, você pode entrar em contato com determinadas situações pela primeira vez e precisar fazer algumas escolhas. Este é o momento da encruzilhada. Uma encruzilhada é qualquer momento de decisão que um indivíduo precisa tomar para continuar em evolução

Fazemos escolhas involuntárias o tempo todo. Elas são direcionadas pelo nosso inconsciente, pelos outros, por pressões emocionais ou porque não queremos refletir muito na situação. Em uma revolução, a escolha de um grupo contém a energia da soma deste descontentamento. "O inferno são os outros", como Satre já disse, e as pessoas envolvidas em movimentos assim, não pensam em termos de individualidade (mas acreditam que pensam). Neste caso, a coletividade é dúbia, podendo agir para construir ou destruir algo. Mas, de qualquer forma, uma transformação vai acontecer.

Em uma encruzilhada, o cenário é outro.

Em uma encruzilhada, você é o protagonista do seu Destino, mesmo que se veja apenas como vítima. Uma vítima é sempre aquela que não consegue compreender os ciclos de mudança e transformação porque sempre esperou "os outros" agirem em nome dela. Esperou que os outros entendessem suas motivações, esperou que os outros fossem mais honestos, sinceros ou altruístas e amorosos. Em outras palavras, não agem e esperam resultados diferentes de uma situação que não muda.



É uma espécie de "Complexo do Paraíso Perdido", onde o indivíduo se enxerga impotente diante dos acontecimentos de sua vida e sente que foi abandonado ou traído (expulso) por um deus, a sociedade, sua família ou governo. É um campo perigoso, cheio de insatisfação e raiva fria que pode se voltar contra tudo e contra todos. Tivemos muito disso em 2017 e teremos mais, se uma mudança individual não acontecer.

Uma encruzilhada é um chamado para própria responsabilidade. Ela retira por completo aquela "aura de bondade" que o politicamente correto gosta de colocar em todos nós, aquela generosidade preguiçosa que cria a mentira de que fazemos o suficiente. Uma encruzilhada pede sacrifício e a entrega voluntária de algo precioso porque não podemos ter tudo o que queremos, na hora que queremos. Não é uma questão de meritocracia. Não é um "toma-lá-dá-cá". Você precisa entregar algo, perder algo e deixar um espaço vazio para que o novo aconteça.

E esse "algo", pode ser um amor, uma parte da sua saúde, um emprego, até mesmo um país. E se você tentar resistir ou lutar, a encruzilhada vai tomar de qualquer jeito porque nada pode ficar sem movimento e transformação. Nem mesmo você e a sua amada vitimização

EU COMO VOCÊ E VOCÊ COMO EU


O objetivo da individuação é nada menos que despir o self dos falsos invólucros da persona, por um lado, e do poder sugestivo de imagens primordiais, pelo outro. - Carl Gustav Jung
Fazer escolhas é um ato de individuação. Pode parecer egoísta, a principio, porque estamos nessa onda de construir um mundo melhor. A questão é que só podemos construir um mundo melhor por meio da ação e do pensamento conjunto. Porém, antes do conjunto, existe o indivíduo. E se esse indivíduo não atravessar a sua encruzilhada pessoal, todo o projeto desaba.  

Atualmente, é difícil acreditar que alguém acorda pensando "hoje vou trabalhar a minha individuação para ser uma pessoa melhor e contribuir para melhoria do mundo". Fala sério, você acorda com as suas questões rotineiras, pensando em como ganhar mais dinheiro, não perder ou buscar emprego, se o seu casamento acabou ou se vai sair da seca e encontrar um novo amor, etc. Em suma, você acorda como um ser humano comum, em processo de contínuo aperfeiçoamento, consciente ou não, de si mesmo. Você acorda tendo que fazer escolhas.

Por vários motivos, o ano de 2018 representa o encontro do indivíduo com o mundo "lá fora". Se você já pagou a oferenda de 2017 e saiu da sua encruzilhada, 2018 é ano da renovação e da inovação de um estado pessoal que estava estagnado faz tempo. É um ano de colocar em prática qualquer plano que foi pensado nos anos anteriores. Pode ser o seu ano. Isso, se você quer ser protagonista. Para as vítimas, boa sorte. Você vai precisar.

Em termos de energia coletiva, o ano realmente só começa em 20 de março. Desejo que você aproveite seu Natal, a passagem do ano e seu Carnaval. Descanse, divirta-se e busque a individuação, sem egoísmo. Temos muito trabalho pela frente e você faz parte de tudo isso.

Sorte, saúde e prosperidade em 2018!!! Até a próxima!!!

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