O QUE A PIRATARIA PODE FAZER PELA SUA CULTURA

quinta-feira, outubro 01, 2015 Marcos Henrique de Oliveira 0 Comments


Pirataria é crime e ponto. A propriedade intelectual de um projeto deve e precisa ser protegida, não apenas dos pirateiros mas também das linhas pequenas presentes nos contratos das multinacionais sacanas que arrancam uma boa grana dos novos autores/inventores. Dito isso, o assunto aqui não é sobre direitos autorais e toda a política/grana/crime/qualquer outra coisa

O tema aqui é sobre acesso e distribuição da cultura, ok?

Este artigo foi criado com a ajuda de um outro artigo chamado "Why Piracy Is Good For Innovation" do jornalista Robbert van Ooijen que é graduado em Música e Mestre em Novas Mídias e Cultura Digital (leia completo, em inglês, aqui).

A Pirataria como inovação para novos negócios

O Popcorn Time tornou-se o objeto da atenção da mídia tradicional por sua facilidade de utilização, com a PC Magazine e a CBS News chamando o Popcorn Time de Netflix da pirataria, e observando as suas vantagens óbvias sobre o Netflix, tais como o tamanho da sua biblioteca, e as últimas seleções disponíveis.[1] [3] Caitlin Dewy do Washington Post disse que o Popcorn Time pode ter sido uma tentativa de tornar um ecossistema normalmente "esboçado" de torrents mais acessível, dando-lhe um olhar moderno limpo e uma interface fácil de usar. - Wikipédia
Assim como o recente kodi, o Popcorn Time demonstrou (ao mercado) que é possível oferecer melhores serviços por streaming, inovando ao "pensar fora da caixa", ao usar códigos abertos (open source) e a criatividade de jovens programadores. A maior vantagem de serviços como esse é a possibilidade de assistir filmes e séries que não são mais distribuídos e veiculados por canais por causa do custo de copyright. O que nos leva ao próximo tópico:

A Pirataria ajudando a criar novos mercados

Quando o Napster surgiu quase na virada do século, foi uma loucura. A possibilidade de compartilhar arquivos de música de um computador para o outro (cliente para cliente ou p2p) fez a alegria dos jovens da época. Bandas como o Metallica foram totalmente contra e outros músicos curtiram a ideia e lançaram "versões oficiais" para download. Moral da história? Músicos e músicas que nunca seriam conhecidos, além do seu país de origem, agora poderiam fazer parte das futuras playlists em todo mundo. 

Uma curiosidade: a banda de metal-eletrônico Nine Inch Nails lançou o mesmo cd completo para download gratuito e nas lojas (com capa especial e também na versão em vinil) e vendeu tudo. O Pearl Jam, contra a pirataria e bem mais conhecido do que o NIN, lançou todos os seus shows ao vivo em cds (mais de 14 shows, praticamente iguais), sofrendo um encalhe monumental #epicfail :)

Hoje em dia, todos os programas de streaming de música (como o Spotify e ITunes) devem seu sucesso ao tataravô Napster que começou essa revolução, voltou, agora é pago e ainda firmou parceira com o Corinthians em 2015.

 O direito aos Direitos 

A pirataria veio pra ficar. Não adianta dizer que ela alimenta o tráfico de drogas, armas ou prostituição. Todas as indústrias formais que vendem álcool e tabaco, fast-food e roupas possuem seu lado negro como exploração de menores, trabalho escravo, etc. O usuário final não pensa nisso ao baixar um filme ou música, ao comprar um Lanche Feliz ou um Nike. O consumo supera a moral na maioria dos casos. Por quê será?

A pirataria é fruto do capitalismo e da ganância que corrói os dois lados da corrente. Existem pouquíssimos casos de autores reclamando sobre a sua arte ser pirateada por causa da arte em si. A questão é sempre financeira. Por outro lado, é incrível ver o número de grupos que se formaram, por exemplo, para traduzir um filme ou série. O mesmo acontece na distribuição de livros, games e programas. O que aconteceria se todos esses produtos tivessem o preço justo e melhor distribuição?

Um caso brasileiro interessante é o do filme "Memórias do Cárcere" (1984), uma obra-prima do cinema nacional que ficou anos sem sair em DVD por causa da briga entre o diretor Nelson Pereira dos Santos e os seus direitos de distribuição. Detalhe: ele estava certo.

As leis vigentes continuam, é claro, favorecendo as empresas, produtoras e distribuidoras. Um escritor recebe, em média, 10% do valor de capa pela obra que ele escreveu. A política do mercado estabelece que qualquer produto deve rentabilizar 3x ou mais o seu valor para ser considerado um sucesso.

O filme "Vingadores: a Era de Ultron" custou $220 milhões e fez $1.52 bilhões em todo mundo (sem contar com o DVD e Blu-ray). O filme "Carandiru" (2003), de Hector Babenco e considerado o filme mais caro já feito no Brasil até o momento, custou 12 milhões de reais e penou para ser distribuído. Pra completar, filmes estrangeiros e antigos (anos 70 para trás), dificilmente serão vistos na telona ou na telinha. E os canais que podem passar filmes assim fazem parte de pacotes especiais (leia-se mais caros) das operadoras. Novamente, o valor dos direitos autorais e da distribuição.


Pra finalizar, na matéria do Diário do Nordeste, a resposta para pergunta "Qual a razão para o preço do livro digital seguir superior ao do livro físico?", feita para as grandes editoras como Amazon, Saraiva e Cultura é atrapalhada e contraditória. Em outras palavras, não justifica. 

O Objetivo deste artigo, reitero, não é fazer você se tornar um pirateiro. Uma máxima criada nos anos 70 e que se tornou um modelo malandro de conduta para muitos foi a chamada "Lei de Gerson" ou "Gosto de levar vantagem em tudo, certo?" Errado. Tão errado quanto os modelos atuais de negócios que permanecem cegos e arcaicos para atual forma de consumo de mídia e produtos. 

A ideia aqui é não se deixar seduzir pela cortina de fumaça lançada pela mídia para dividir a questão entre direito e deveres (bem x mal). É direito do autor receber. Também é direito dos estúdios, editoras e companhias de música ganharem por seu trabalho. De maneira justa. Movimentos como o Copyleft e o Conteúdo Livre são um começo tímido mas necessário para mudança. 

Enquanto a mudança não vem, a pirataria fica mais forte, alimentada por seu próprio "inimigo", em um estado parasita permanente. E a Cultura, meio envergonhada (mas nem tanto) por não ter o acesso que deveria, vai continuar baixando e ripando o que puder. 

Durma com esse barulho e até a próxima!

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