EROS E TÂNATOS E A MORTE QUE VOCÊ AINDA NÃO QUER CONHECER

quarta-feira, outubro 28, 2015 Marcos Henrique de Oliveira 0 Comments


Não é que eu tenha medo de morrer. É que não quero estar lá na hora que isso acontecer. - Woody Allen
Cavaleiro mais temido do Apocalipse cristão, A Dama de Negro, O Homem Alto, O Ceifador, são muitos nomes que A Indesejada adquiriu na mente e no coração assustado de todas as raças. Cada qual escolhe a mitologia que mais se aproxima dos objetivos dessa ou daquela religião. Certa vez, a Vida perguntou para Morte: "Por que eu sou tão querida pelos humanos e você tão odiada?" "Veja", replicou a Morte, "é porque você é A Bela Mentira (da Eternidade) e eu sou a dura e sofrida Verdade Final."

Verdade essa que esconde, ironicamente, a continuidade da vida para quem a Ampulheta do Tempo ainda não escorreu seu último grão de areia (símbolo de que somos pó e para o pó voltaremos). Sem a morte, todos nós morremos para vida, algo como os zumbies de The Walking Dead porque a Eternidade não teria comida nem espaço para todos (o que inclui animais, insetos e alguns seres peçonhentos).

Porém, falar de morte é sempre desagradável para maioria e o assunto piora com a idade, já que os mais velhos se imaginam cada vez mais perto dela. Para os mais jovens e seu lóbulo frontal em formação, a Morte vem na forma de um desafio de coragem e ousadia, misturado com uma certa ingenuidade e presunçosa estupidez. Faz parte...


Queiramos ou não, a Morte precisa ser colocada em pauta em algum momento porque tem sido muito mal falada por aí. Como um empregado jogado nos fundos de um escritório semi iluminado que precisa lidar um uma infinidade de papéis e burocracia, a Morte faz o seu trabalho com uma maestria desvalorizada.

É o caso, por exemplo, da morte diária de tudo o que não precisamos no corpo como as impurezas e células da pele que se renovam constantemente ou "La petite Mort", A Pequena Morte como é chamado, pelos franceses, o orgasmo feminino e quando dormimos. Fica claro que a Morte no caixão dos outros é refresco, né?

O Anjo da Morte também está bem vivo na Cultura Pop, nas bandas de heavy-metal, na Arte em geral e nos quadrinhos. O personagem Thanos da Marvel deseja exterminar o Universo como um presente para sua amada Morte. A Morte de Neil Gaiman, autor de Sandman, executa seu trabalho com paciência, humor e uma certa melancolia. No universo real, os programas sensacionalistas expõem mortes em série ao lado de cremes de beleza e planos dentários. A morte, queiram ou não, está sempre presente em nossas vidas. 


Uma pena que a melhor compreensão da Morte seja a quase desconhecida interpretação de Freud que buscou no Mito de Eros e Tânatos, um sentido para nossa pulsão pela Vida e pela Morte:

No mito grego, Eros (cupido na mitogia romana) é o deus do amor e Tânatos, deus da morte. Eros, o mais belo dos deuses, possui arco e flecha com os quais costuma enlaçar de amor homens, mulheres e deuses. Segundo consta na mitologia, certo dia Eros adormeceu numa caverna, embriagado por Hipno (deus do sono, irmão de Tânatos). Ao sonhar e relaxar suas flechas se espalharam pela caverna, misturando-se às flechas da morte. Ao acordar, Eros sabia quantas flechas possuía. Recolheu-as, e sem querer levou algumas que pertenciam a Tânatos. (Esopo, Grécia Antiga in Meltzer, 1984). Sendo assim, Eros passou a portar flechas de amor e morte (Tânatos). - http://www.rodadepsicanalise.com.br
Uma "pulsão", que conhecemos melhor como compulsão, é aquela sensação irresistível que nos leva a agir de maneira impensada ou quase instintiva. A pulsão de Vida seria Eros, a pulsão de Morte, Tânatos. Quanto maior for a presença de Eros em você (desejo, sexualidade, prazer), maior será também a sua pulsão por Tânatos (morte, finalização, extermínio). Em outras palavras, a busca pelo prazer e satisfação dos desejos, pode te levar à morte. Calma, você não precisa entrar para um convento ou marcar uma consulta com um terapeuta. Ainda.


Freud e os mitos podem te ajudar a "saciar" a Morte que existe em você ou melhor, sua pulsão. A dominação de Eros na sociedade atual está bem representada pela nossa compulsão ingênua de obter mais e mais sem precisar pagar o preço cobrado pela Morte: o excesso. Carros mais velozes, comidas mais temperadas, sexo cada vez mais intenso e bizarro, prazeres que precisam sempre subir o nível mais e mais.

Fumamos, comemos, transamos e curtidos como um "Eros Embriagado" pela ilusão de eternidade e o medo primordial da Terra Fria (leia-se cemitério). Para Eros, um imortal, não existem veias entupidas, barriguinha de cerveja ou um pulmão preto de nicotina. Apaixonar-se não inclui uma gravidez indesejada, ciúmes ou violência. Eros lança suas flechas despreocupadamente porque ele é o principio (início) do Prazer: o que você faz com esse principio é totalmente da sua conta. Sacana esse Eros, né?


Enquanto isso, Tânatos (Morte) aguarda pacientemente que o seu livre-arbítrio, esse conceito incompreendido de liberdade, resolva te dar uma luz para reduzir o colesterol ou começar a correr de manhã como soluções breves para o abraço final. No final das contas, tanto faz. Seja você comportado ou não, sedentário ou vegetariano, o resultado será o mesmo. Então a diferença entre Eros e Tânatos não é como se vive ou morre mas  de que forma você prefere curtir a viagem. Porque você sabe que o seu verdadeiro medo é a dor de não existir (extinção do prazer), ser esquecido, não ter amado ou se arrependido de alguma coisa. Ei, ainda dá tempo. Se você está lendo isso é porque está vivo, né? Ou será que não?


Talvez uma das celebrações mais legais da vida seja O Dia dos Mortos que é comemorado em dois de novembro. Com 3 mil anos de História, o Dia dos Mortos homenageia todos os antepassados falecidos com muita festa e alegria que pode parecer um absurdo para mentalidade brasileira de perda e tragédia. Mas, do ponto de vista espiritual, parece mais absurdo ainda que o seu parente precise de lágrimas, saudade e mais dor do outro lado. No calor do abraço, no vinho quente e na cantoria que honra aquele que já foi, existe vida. É para se pensar, não é?

Ninguém sabe quando vai morrer. E todos morreremos. É no mistério da Morte, na sua compreensão em algum nível mental e emocional que podemos apreciar o que temos, quem está ao nosso lado e a nossa própria existência. Dando para Eros um pouco de prazer e para Morte seu devido valor, podemos tentar obter o melhor dessa viagem sensacional que pode ser breve ou durar uns 100 anos. 

Afinal, se para morrer, basta estar vivo...do que a sua vida precisa para você continuar vivendo? 

Até a próxima!
 

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