PÃO E CIRCO - O BRASIL DA COPA/MANIFESTO.
"Panem et circenses [ludos] é a forma acusativa da expressão latina panis et circenses [ludi], que significa "pão e jogos circenses", mais popularmente citada como pão e circo. Esta foi uma política criada pelos antigos romanos, que previa o provimento de comida e diversão ao povo, com o objetivo de diminuir a insatisfação popular contra os governantes. (...) O custo desta política foi enorme, causando elevação de impostos e sufocando a economia do Império." (Wikipédia)
O termo acima representa um erro histórico. Na dissertação do historiador Fábio Faversani, "Panem et Circenses: Breve Análise de uma Perspectiva de Incompreensão da Pobreza no Mundo Romano", descobrimos que o cenário era bem pior: Nem todos os pobres tinham acesso aos coliseus ou mesmo ao pão (o que isso te lembra?) mas a expressão ainda continua servindo bem o propósito de iludir e enganar quem precisa de um pouco de "diversão e arte, violência e paixão" como cantavam Os Titãs.
Dizer que o Brasil é um país sem memória é mentira. Todo brasileiro lembra da escalação do seu time de coração, do último campeonato perdido, do sofrimento pela falta e pelo penalti. Difícil mesmo é lembrar dos nomes dos anões do mensalão (de 1989 a 1992) ou eventos mais obscuros como o do Banestado (Banco do Estado do Paraná) onde cerca de US$ 24 bilhões foram remetidos ilegalmente para fora do País entre 1996 e 2000). Para quem quiser refrescar a memória, é só clicar neste link.
Temos memória. A questão é que ela pode ser curta, pontual e seletiva. Será que estamos pisando na bola?
A resposta não parece tão simples. Sites, blogs e redes sociais divulgam, nervosamente, os gastos com a Copa: 35 bilhões com renúncia fiscal total de impostos para Fifa. E este número ainda pode aumentar. Para mais gastos, infelizmente.
Intelectuais, jornalistas e palpiteiros se vestem da ilusória democracia para colocar a boca no trombone da indignação com quatro anos de atraso (ou com 100 anos, depende do ponto de vista). Marcas e agências aproveitam o momento para veicular o orgulho de ser brasileiro e, por que não, abrir uma conta no banco tal, comer o chocolate aquele e comprar mais barato na loja que sempre foi do povo.
Entre 2004 e 2010, 32 milhões de pessoas ascenderam à categoria de classes médias (A, B e C) e 19,3 milhões saíram da pobreza. Que empresa não quer toda essa gente com a sua marca na cabeça?
Entre 2004 e 2010, 32 milhões de pessoas ascenderam à categoria de classes médias (A, B e C) e 19,3 milhões saíram da pobreza. Que empresa não quer toda essa gente com a sua marca na cabeça?
A cereja do bolo são os ingressos: para o jogo final da Copa, na cadeira cativa, o valor é de R$ 1,980 (veja a tabela completa aqui)
Nosso patriotismo é temporal, tem que aproveitar.
E como não dá para agradar gregos e troianos, o país apresenta a sua mais nova modalidade: a manifestação/rave, uma mistura de passeata com balada, marcada pelo facebook e twitter com direito a uma cervejinha durante e no final da luta pela democracia. Pode levar a família, os amigos, o professor e até os sem-terra ou alguns índios. É tanta gente que fica difícil a verdadeira consciência política entrar nessa festa que costuma terminar em quebra-quebra e vandalismo mascarado com pouco resultado prático. Mas deixa aquela sensação de autoestima, né?
Ah, e pode ter trilha moderninha também para que todos possam se sentir "fazendo parte da mudança". Olha que bonito:
"O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima" - Nelson Rodrigues, 1950
Na verdade, se o "gigante acordou" ele deve estar meio sonado, quem sabe com aquela preguiça ou mesmo irritado por ter sido desperto de seu sono milenar. E qual seria a idade deste gigante? Um adulto formado, maduro com experiência ou um gigante ainda adolescente e meio desconectado da própria realidade? Será que ele é analfabeto? Será que tem algum partido? Que gigante acordou?
Gostaria muito de poder dar uma resposta para Babilônia de ideias que circulam sobre tudo. Não tenho. Neste momento, a atual presidência tem a pior avaliação de seu mandato (veja aqui) e o Brasil ganhar ou não a Copa não define como os estádios vão ser usados ou o retorno de toda grana. As passeatas vão continuar sim, mais greves também e partidos e sindicatos irão para as ruas, apoiados sempre por "uma causa justa em defesa do povo". E muita gente vai cair nessa.
"O ufanismo (jactância ou auto-vangloriação de um país) é uma expressão utilizada no Brasil em alusão a uma obra escrita pelo conde Afonso Celso cujo título é Porque me Ufano do Meu País. O adjetivo ufano provém da língua espanhola e significa a vanglória de um grupo arrogando a si méritos extraordinários. Portanto, no caso do Brasil, pode-se afirmar que o ufanismo é a atitude ou posição tomada por determinados grupos que enaltecem o potencial brasileiro, suas belezas naturais, riquezas e potenciais.
Na verdade os ufanistas acabavam por extrapolar ao se vangloriar desmedidamente das riquezas brasileiras, muitas vezes expondo a si e ao país a uma situação que seria interpretada por outros como jactância, bazófia e vaidade." (Wikipédia)
Não existe espaço neste blog para dizer o quanto o Brasil é invejado por suas contribuições universais, seja na música, na literatura, no cinema, na culinária, na medicina e na cultura popular original. Porém, tudo isso pode se perder fácil em ideologias sem aprofundamento ou no stress de movimentos emocionais que não reconhecem que uma dívida ancestral de ação e atitude não pode ser mudada da noite para o dia.
Se Nelson Rodrigues estiver certo, talvez nos falte o veículo correto para resgatar uma autoestima não-destrutiva que faça a ponte entre o argumento inteligente e os movimentos populares. Nem tanto "papo-cabeça" e nem tanta ignorância histórica. Quem se candidata?
Poderia se dizer que é para isso que serve o voto. Se fosse verdade.
Enquanto isso, continuamos. Eu e você, vestindo a camisa e torcendo com a cara (ou o cara) do Brasil na atualidade. Vai Brazil!!!
Atualização: O Brasil sofreu uma derrota histórica, a Alemanha ganhou e a Shakira dançou. Não foi desta vez.
Mais coisas legais:
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