A VIAGEM - KARDEC E O AVATAR DOS IRMÃOS WACHOWSKI.
Vamos começar pela verdade: A Viagem (Cloud Atlas, 2012) é um filme longo, difícil e muito desafiador de assistir sem a devida preparação para acompanhar seis histórias paralelas que são apresentadas como um ioiô temporal pra lá de complicado. Diferente da obra original de David Mitchell
(lançada no Brasil como Atlas das Nuvens onde cada história é contada separadamente), os irmãos Wachowski (Trilogia Matrix, V de Vingança) resolveram jogar o espectador em um túnel do tempo (ou seria um buraco negro?) cheio de questões. Olha só:
As melhores frases estão neste trailer que resume tuda a mensagem que os irmãos Wachowski pretendiam passar com um filme de três horas que tem Tom Hanks, Halle Berry, Susan, Saradon, Hugh Grant e outra estrelas famosas, foi financiado de forma tortuosa, mal distribuído e levou quatro anos para ser finalizado. Que dureza, hein?
Então, por que você deveria assistir o filme independente mais caro da história do cinema (102 milhões de dólares), que quase não se pagou nas bilheterias e foi criticado pelos próprios atores? Porque existem vários e bons motivos para isso.
A Viagem (título nacional forçado que lembra uma antiga novela kardecista da Rede Globo) representa o que eu chamo de "filme de sacrifício". Não é "entretenimento" como um Homem de Ferro, um Vingadores, alguma comédia ou romance. É uma tentativa milionária de se apresentar uma história pela visão pessoal do diretor (ou diretores) e um desafio ao lugar-comum do gosto mediano de uma audiência acostumada a receber tudo mastigadinho para não ter que pensar.
A Viagem não te pega pela mão e te leva do ponto A ao ponto B. É você quem precisa estabelecer a sua linha do tempo, reconfigurar os eventos e chegar a uma conclusão. E isso pode ser bem interessante para organizar a sua própria noção de como (e porquê) as coisas acontecem entorno de você, na sua vida, no passado, presente e futuro.
A Viagem não te pega pela mão e te leva do ponto A ao ponto B. É você quem precisa estabelecer a sua linha do tempo, reconfigurar os eventos e chegar a uma conclusão. E isso pode ser bem interessante para organizar a sua própria noção de como (e porquê) as coisas acontecem entorno de você, na sua vida, no passado, presente e futuro.
Não se trata de tentar justificar um filme que possui vários erros de narrativa, sendo o principal deles, a conexão emocional com os personagens. A dicotomia (princípio que afirma a existência única, no ser humano, de corpo e alma) não é um assunto fácil de ser tratado e demonstrado.
O ótimo A fonte da Vida (The Fountain, 2006) já tentou uma abordagem semelhante e a própria Trilogia Matrix já apresentava estes elementos de resgate espiritual que os Wachowski tanto gostam. Ao tentar colocar tantos assuntos de fundo espiritual/evolutivo (cuidar do ser humano, dos recursos naturais, etc), os Wachowski perderam a mão no roteiro (a direção permanece competente). E todo mundo sabe que um roteiro é, sem trocadilhos, a alma de um filme.
Então, o que temos? Um punhado de boas intenções, com atores dando o melhor de si em diversas camadas de histórias entrelaçadas. Acredito que para o público comum não vai ser suficiente. Porém, com paciência e perseverança (qualidades que alguns consideram altamente espirituais) é possível extrair uma boa experiência dessa tentativa falha de elevar a consciência comum e distraída entre goles de coca-cola e punhados de pipoca. É pagar (em Blu-ray, se possível) pra ver.
Para quem gosta de estudar cinema, roteiro, um pouco de espiritismo e ecologia, A Viagem reserva boas surpresas, uma trilha sonora linda e algumas questões filosóficas pertinentes, mesmo que mal aproveitadas. Enfim, dê uma chance e depois venha me contar. Até a próxima.
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