SENTIDOS DO AMOR - QUAL É O REMÉDIO QUANDO A PAIXÃO NÃO TEM CURA?
"Já foi dito que o amor é a capacidade de dar a alguém o poder de destruí-lo, mas confiando que (a pessoa) não irá fazê-lo" - Anônimo
Este é o pensamento que me ocorreu após assistir Sentidos do Amor (Perfect Sense, 2011) com Ewan McGregor e Eva Green. Não existe muita originalidade em comparar amor com doença (veja o trailer) ou a escolha das profissões de McGregor (cozinheiro) e Green (cientista). Encontramos vários exemplos disso na literatura como o clássico Amor de Perdição (1862) de Camilo Castelo Branco. O interessante aqui é o contexto dado pelo diretor David Mackenzie: amar é perder os sentidos, um a um, amar é adoecer.
A tradução brasileira do título (como sempre) é ingênua e burrinha. Qual é a busca pelo Amor? Um ideal de perfeição que possa ser compartilhado entre duas pessoas. A ilusão do eterno, do felizes para sempre e, principalmente, dar significado a própria existência. Os poetas gostam de pensar que existir não é amar. Amar é existir. Enquanto ele não aparece, a busca continua.
Quando um vírus estranho começa a retirar as percepções sensoriais das pessoas, o romance perfeito dos personagens principais é colocado em risco. A palavra paixão vem do latim e significa, na sua essência, sacrifício que, por sua vez, quer dizer oferenda. Amar, portanto, é fazer escolhas e sacrifícios.
Toda vez que nos apaixonamos, devemos fazer escolhas que alteram o nosso sistema social e pessoal (como acontece com a personagem cientista de Eva Green). Perdemos a concentração e o foco no trabalho, damos menos atenção aos problemas de rotina e da família, nos tornamos mais egoístas (centrados nos próprios interesses). Troque a palavra "paixão" por "gripe" e você vai entender a ligação proposta em Sentidos do Amor: amor e doença transformam nossa visão (sentido) do mundo orgânicamente e além disso.
O título original (Sentido Perfeito) ajuda a explicar essa coisa toda. A diferença entre as palavras sentido (sentimento) e sentido (direção) se encontram quando as pessoas se apaixonam. Na verdade, se chocam. Nos tornamos "viciados" nos próprios sentidos e sentimentos. Desejamos ver, tocar, cheirar, ouvir e comer com intensidade. Nos tornamos "devoradores sociais". Isso inclui o sexo e o prazer que "precisa" ser o mais excitante sempre. Para o diretor Mackenzie, já estamos doentes enquanto sociedade que perdeu a direção (sentido) no processo de evolução. Sinto-me inclinado a concordar com ele.
Talvez, Sentidos do Amor deva ser assistido na companhia de alguém que você ame (no momento). Isso inclui amigos de verdade, sua família ou mesmo seu bichinho de estimação. O conceito romântico do Amor é sempre de conexão e contato com algo em si mesmo e além de você. Algo que transforme sua forma de enxergar o mundo, o "sentido perfeito" que está além do corpo físico. Por incrível que pareça, a doença também. Os dois caminham na mesma direção: ou você "morre" (literalmente/emocionalmente) ou "se transforma" e fica curado.
Em resumo, o maior sacrifício para amar e ser amado é entregar a sua maior oferenda: você mesmo. Boa sorte com isso e até mais.
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Sobre o Autor:
Marcos H. de Oliveira é redator freelance de publicidade e propaganda e consumidor voraz de livros, música, cinema e arte. http://twitter.com/agentescreve |
2 comentários:
um embaralhamento muito legal. quero ver o filme.
boa, marcao
Valeu!!!
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