12 CONTOS - NOVEMBRO
Nove segundos. Um espaço para uma frase curta, uma negativa, uma aprovação. O tempo para urinar naquele desconfortável aparelhinho de teste. Nove segundos, pensou Nívea, dentro do banheiro da faculdade.
Nove minutos. De uma espera de cinco, de uma ansiedade de 40, de uma incerteza de 81 dias de relacionamento com Caio, aquele jovem professor de matemática, de barba rala e cara de artista de série de televisão. Nove minutos de sons da água escorrendo na pia, mexericos de provas, suspiros de desânimo pela maquiagem borrada, tudo vindo do outro lado da porta para atrapalhar sua concentração. Nove minutos, sentada de calças arriadas, encarando a frase rabiscada "Gosto de mulheres, me liga no..." no azul descascado.
Nove dias. Uma semana para colocar a cabeça no lugar, pensar nos pais e esquecer dos pais, pensar em Caio e odiar Caio e a si mesma pela inconsequência que move hormônios e anestesia a inteligência. Nove dias. Uma semana mais dois dias para contar ao mundo sua revolução interna, aquilo que vai mudar tudo para sempre, seja qual for a sua decisão. Nove dias para deixar de ser Nívea e ganhar adjetivos como irritada, antisocial, afastada e estranha.
Nove semanas. A matemática dos "nove" irrita, mas ela não consegue parar. A soma dos opostos (ela e Caio), a subtração da sua juventude (só tenho 23 anos, pelo amor de Deus), a divisão da família (papai vai entender, a mãe odiar), a multiplicação do seu "status social" (a Nívea ficou grávida, tão sabendo?). Isso é loucura. Dentro da cabeça de Nívea, os nove minutos correm para se transformarem em anos.
Nove meses. Pule os nove meses. Esqueça os enjôos matinais, os pés inchados, os presentes feios e os fofinhos. Esqueça o sexo da criança (ou crianças), a mão presente ou ausente de Caio na mesa de cirurgia, as baladas perdidas e os comentários infantis das amigas sonsas que acreditam que gravidez é como ganhar uma boneca de carne e osso. Pule os nove meses, pule tudo.
Gêmeas. Nívea sempre quis ter gêmeas. Sua prima tem um par de moleques, lindos e terríveis. Clara e Ana. O nome de sua avó e de sua melhor amiga no jardim de infância. Clara e Ana na distância de nove segundos que poderia ter dito "não", dos nove minutos de espera do aparelhinho, das nove semanas de decisão de contar para Caio e sua família, dos noves meses que não quer pensar. Clara e Ana. Mais que duas bonequinhas de brincar, mais que somente o seu desejo de companhia eterna ou um dilema sobre responsabilidade e maturidade. Clara e Ana: duas vidas escritas em nove tempos para durar 81 anos, depois dela mesma, para sempre.
Talvez tenha sido por isso que Nívea chorou quando olhou o resultado do teste. Deu negativo.
***
Novembro é o décimo primeiro mês do ano no calendário gregoriano, tendo a duração de 30 dias. Novembro deve o seu nome à palavra latina novem (nove), dado que era o nono mês do calendário romano, que começava em março. - Wkipédia.
Agradecimento especial para minha amiga Ana Paula Pacheco pela envio da imagem que ilustrou este conto.
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