Escrito para o Cinema - Perfume - A essência da obsessão pelo amor perfeito por Marcos H.
Você já sentiu o cheiro do nada? Melhor: você já cheirou o vazio? Em "O Perfume - A história de um assassino", filme adaptado do livro de estreia do escritor alemão Patrick Süskind, lançado em 1985, a maldição do personagem principal é ter nascido com um super-olfato e, ao mesmo tempo, não possuir odor algum.
A resposta para as perguntas meio filosóficas acima está nos estudos de Freud: aquilo que faz de você um ser único, também o separa dos "comuns", te deixa "esquisito". Todos nós possuímos um cheiro personalizado, resultado de vários fatores como aquilo que comemos e mesmo por nossa genética. Para o protagonista, Jean-Baptiste Grenouille, o fato de sentir e memorizar todo e qualquer cheiro é o caminho para o despertar de uma obsessão pela união impossível com o outro, com a essência humana que lhe falta. Em outras palavras, é uma busca pelo amor que pode matar. E mata mesmo.
O diretor Tom Tykwer (do acelerado Corra, Lola, Corra de 1998) compõe sequencias inebriantes de dualidade, sedução e perda neste filme realizado em 2006 com um orçamento que ultrapassou mais de 50 milhões de euros. Seu retrato da Paris do séc. XVIII, de ruas sujas e fedorentas, em contraste com os perfumes e as essências de sucesso criadas por Grenouille, são a metáfora perfeita para neurose do personagem. O ator de teatro Ben Whishaw (pouco conhecido em cinema) imprime um talento que chega a obscurecer até mesmo a participação, meio que desnecessária, de Dustin Hoffman (veja o trailer).
Apesar de ser vendido como um filme de suspense, "O Perfume" reflete algo bem mais profundo do que assistir uma série de assassinatos bizarros. A primeira vítima de Grenouille é morta quase que por acidente. Ela morre pela compulsão infantil do personagem e sua incapacidade de estabelecer uma separação entre o que "sente" e o que é sentido. Pense em um amor perdido e perfeito para o qual você tenta retornar a cada novo relacionamento e vai entender a angústia de Grenouille.
O Perfume foi considerado o livro da década de 1980 na Alemanha e tornou-se um best-seller clássico que pode ser lido antes ou mesmo depois de assistir o filme. Tanto faz. Seja qual for o "frasco" que você escolher, a experiência será marcante e inesquecível. Até a próxima.
Fontes
Sobre o Autor:
Marcos H. de Oliveira é redator freelance de publicidade e propaganda e consumidor voraz de livros, música, cinema e arte. http://twitter.com/agentescreve |
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