VOCÊ HOJE NÃO É AMANHÃ - COMBATENDO O FANTASMA DA EXISTÊNCIA.
Nas conversas virtuais que tenho com leitores de várias idades do AGE, tenho reparado em uma espécie de "medo" desfocado, medo de tudo e qualquer coisa, como se um fantasma imaginário aguardasse o momento para atacar. Então, como estamos no começo do ano, resolvi falar de fantasmas. Do fantasma do desemprego, da falta de confiança em si mesmo e muitos outros.
Este artigo não tem a pretensão de afastar os fantasmas do passado ou do futuro mas de, pelo menos, entendê-los. Para tanto, vamos precisar de algumas ferramentas. Como sempre digo: se não dá pra ficar, nem correr, converse com o bicho.
O filosofo e escritor Jean-Paul Sartre (1905-1980) foi um dos caras que resolveu conversar com o bicho ou fantasma chamado existência. “Nasci para satisfazer a grande necessidade que eu tinha de mim mesmo” e “cada homem deve inventar o seu caminho”. Frases dele, que servem bem para que você possa começar a entender que o você de agora não é o você de amanhã.
Talvez o você-agora esteja preocupado em passar na facudade, arrumar um bom emprego, ser efetivado depois do estágio, mudar da casa dos pais ou alugar outro apartamento. Talvez o você-agora esteja querendo se casar, ter um filho ou terminar um longo relacionamento. E, talvez tudo isso esteja acontecendo com você ao mesmo tempo. Que sorte, hein?
Seja esta ou qualquer outra resposta, o você-agora está em uma encruzilhada, um ótimo lugar para encontrar fantasmas, demônios e outros bichos. Porém, uma encruzilhada na verdade é lugar nenhum porque estar é um estado de ser e estar em lugar nenhum é não-ser. Complicou, né?
No Existencialismo, o mais importante é existir primeiro como pessoa e logo em seguida como essência (o ser puro, aquilo que realmente é você). Para isso,você precisa de dois tempos: a existência e o existir. A existência você já ganhou, na faixa, porque nasceu. O existir é mais embaixo. Vai depender do quanto você está presente no seu momento.
Em tempos difíceis de insatisfação pessoal, a tendência da maioria é se abrigar em um passado de sucesso ou em um futuro promissor, de características paternalistas ou maternais.
Se você faz parte da chamada "Geração Y" (nascidos entre 1985 e 1995) ou da nova sigla "Geração C" (Connected Collective) que pega uma galera ainda mais jovem (nascidos depois de 1995), pode escolher voltar-se para os bons momentos da infância. Se está com uns 28 anos, vai pros 18 e se tem 44 como eu, pode cair na repescagem do sentido da carreira que pensava ter aos 20 anos. Nesse vai-ou-já-fui é que o bicho pega porque você não está em lugar nenhum. Alguns chamam isso de “limbo“, um estado fora do tempo. Como não sou católico, eu chamo de estar-sem-ser.
A publicidade, a propaganda e a moda trabalham muito com este conceito, criando um mundo de fantasia onde você precisa estar para poder ser. Algo como “Você precisa entrar na faculdade tal para ser o profissional tal que vai atingir o sucesso (aquele) no futuro que te aguarda”.
Esta pressão imposta (pelo social e pela mídia em geral) acaba com a capacidade de escolha dos mais indecisos e ainda projeta (imagem-ilusão) muita ansiedade. Estar não é pertencer. Você não é aquilo com o que trabalha. Você é mais. Basta imaginar uma sala de cirurgia, o choro de um bebê saindo de uma mãe e o médico dizendo "Parabéns, a senhora ganhou um lindo advogado" para entender como parece insano confundir quem você é com o que você faz.
Um exercício simples é perceber como você está em constante mudança: seu corpo, seus pensamentos, suas emoções, todos executam pequenas e grandes ações o tempo todo. Até a passividade pode ser uma ação porque trata-se de uma escolha. Preocupar-se (além da conta) com aonde você está hoje, pensar aonde você esteve ontem e aonde estará amanhã é estar sem ser, é ficar na encruzilhada.
"O Homem está condenado a ser livre." - Sartre
Ok. Esta é a parte do texto onde eu deveria propor uma solução mágica, um mantra, uma palavra de fé. Nada disso. Sem powerpoint com monges ou frases tiradas de um curso de marketing ou autoajuda. Prefiro considerar você como alguém criativo e inteligente que vai sair desta pelo caminho do meio, inventar a sua própria estrada e perceber que quando você descobri quem é vai deixar de pensar quem foi ou o que pode vir a ser. Este artigo é apenas um aperitivo para você ir atrás e sempre em frente.
Ser é estar presente. Confie em você e seja você hoje, amanhã e sempre. Até a próxima!
Jean-Paul Sartre
Existencialismo
Limbo
O Caminho do Meio - Artigo de Rogério Malaquias
Ps.01: Se ainda ficou na dúvida, clique aqui para saber quem era o garoto da foto e quem ele é hoje.
Ps.02: Caminho do Meio (Madhyama Pratipad, em sânscrito) é uma tradicional expressão budista que procura, de um modo sucinto, apontar o rumo àqueles que se propõem a dar seus primeiros passos em direção à sabedoria ou, pelo menos, ao alívio de seus conflitos. Leia mais no artigo de Rogério Malaquias.
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