Coração de Estudante - Resiliência por Maryjane Oliveira

quarta-feira, janeiro 26, 2011 Marcos Henrique de Oliveira 2 Comments


Resiliência. Capacidade natural que um corpo tem de mudar a forma e voltar novamente para a anterior, ou seja, a capacidade de superar-se ou de recuperar-se de adversidades. É. Desde os 20 para cá, andei exercitando muito essa prática em vários sentidos. Na convivência e nos prumos pessoais.

Hoje, calcei o tênis para trabalhar. Não apenas trabalhar... mas para realizar outras atividades, já que esse tipo de “pisante” oferece certa praticidade. Nisso, não percebi que um caroço de tangerina (que comi na noite anterior) adentrou o sapato e permaneceu ali durante quase todo o dia... Em algum momento, eu percebi a presença do caroço, pois ele circulava por entre os dedos e o calcanharr. No entanto, o então intruso não me fez descalçar o dito cujo e retirá-lo. 

Parece uma situação muito idiota essa, mas sem dúvida, revela a praticidade que atingimos quando se trata de prioridades. Realmente, por mais que me causasse incômodo algumas vezes, eu não achei necessário retirá-lo daquele lugar o quanto antes, pois havia coisas mais importantes e eu sempre esquecia.

Aquilo não atingia um nível de incômodo razoável. Quando eu me lembrava que ele estava ali, mas não o sentia, achava legal pensar que tinha um caroço de fruta debaixo dos pés e que ele fazia parte do meu dia... mas esses pensamentos eram muito rápidos e não perduravam mais que alguns segundos. Eu então, me distraía e logo encontrava outra ocupação ou outro afazer...

Hoje a pós-modernidade finge que é pós...mas ainda é moderninha. Digo moderninha porque é moderna, mas pouco...pós, só na teoria. E fala tanto de diversidade mas a verdade é que  tem dificuldade em lidar com diversidade cultural, sexual, psicossocial e tudo mais. Isso é uma constante em qualquer grupo hoje em dia. 

E é isso que vai dificultando ainda mais a coisa e virando caroços de fruta em tênis com chulé. Da mesma forma que eu me acostumei com o caroço debaixo do pé, se não tomamos cuidado, passamos nós a criar esses próprios caroços, tão acostumados que estamos a suportá-los e conviver com eles, por mais que pareçam inofensivos. Não os caroços de tangerina, mas os conformismos formais, o bom senso (eterno caroço), os vícios pessoais e outras cositas  mais (más).

Na escola, precisamente no 2º grau, lembro com carinho de João Alves, professor de Filosofia, grande pensador e talvez um dos meus amigos e formadores mais importantes naquela época. Uma figura simples, um homem sábio e humilde, que me deu de presente o livro “Para além de bem e mal”, do polêmico Nietzsche*. Confesso que fiquei confusa por não entender porque não me presenteou com algo digamos mais “mimoso e grácil”. Certamente, ele percebeu que talvez precisasse de algo inquietante, novo. Algo que chocasse minha própria inquietude.

Agradeci o presente e fiquei lisonjeada, pois era uma um livro muito querido do professor, inclusive com anotações e rabiscos, mas que naquele momento, cumpria a sua missão individual e partia para uma nova viagem rumo a outro indivíduo.

A verdade é que nem eu mesma não sabia da dimensão daquela filosofia “pura”. Deixei prá lá e se passaram alguns meses até que eu tivesse paciência para ler. E só depois de muitas lidas, sim eu lia e relia o livro várias vezes, durante um ano. Até hoje me pego em algum aforismo nietzschiano. 

Apesar da pouca maturidade para a leitura, o professor, bom que era, percebeu que, mesmo com as minhas limitações, aquele livro guardava algo que eu devesse aprender, é claro. E isso é muito raro hoje em dia. Ninguém quer arriscar muito, errar, subir, cair e levantar. Percebo  certa resistência (falta de resilência) a tudo que exige esmero, paciência, tempo e contra-sensos.

Pra quem tá na escola ainda, ou seja, quem ainda não escolheu uma profissão formal e tal, pois você pode escolher uma faculdade, realizar e produzir coisas de outras searas é bom começar a pensar logo quais caroços guardam na meia... ou no armário, ou na mochila.... Assim, será bem mais fácil tirar o tênis no fim do dia e não se arrepender dos caroços que não incomodam, mas que secarão os pés até se fundirem nele, além de causarem chulé por muito tempo nos tênis de vocês... 

*Friedrich Wilhelm Nietzsche (Röcken, 15 de Outubro de 1844 — Weimar, 25 de Agosto de 1900) foi um filólogo e influente filósofo alemão do século XIX. Crítico da cultura ocidental e suas religiões e, consequentemente, da moral judaico-cristã. Nietzsche é, juntamente com Marx e Freud, um dos autores mais controversos na história da filosofia moderna.  (http://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Nietzsche)

Sobre o Autor:
Maryjane Oliveira Maryjane Aleluia Oliveira, 26 anos é graduada em Comunicação Social. Atua em ações de Marketing e Redação publicitária em Salvador e grupos de estudos em Comunicação e Cultura contemporânea. Blog: http://quitepas.blogspot.com

2 comentários:

George Bueno disse...

Ah!
Entendi perfeitamente a cara do Blog dessa vez.
Obrigado pelas dicas e pela paciência no último e-mail!

E para a Mary, parabéns pelo texto!
Me deu vontade de ler esse livro, me empresta? rs
Bjs

http://leia-atentamenta.blogspot.com

Sim, empresto!! vem pegar em ssa? bjão e volte sempre!