ETERNA IDADE - O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde.

quarta-feira, outubro 20, 2010 Marcos Henrique de Oliveira 0 Comments


“O verdadeiro mistério do mundo é o visível, não o invisível. Viva a maravilhosa vida sua! Não perca coisa alguma dela. O tempo tem ciúme do senhor e luta contra os seus lírios e suas rosas. Um novo hedonismo eis o quer o nosso século. O senhor pode ser-lhe o símbolo visível.” - trecho do livro
                                                                                                              Antes de falar de O retrato de Dorian Gray, saliento o cuidado ao tocar esta obra. Não se trata de qualquer obra literária. Saibam o que fazer com este livro, caso contrário, as conseqüências podem ser inesperadas e insuperáveis. 

Calma, leitores, não se apressem nem recuem! É apenas um aviso cuidadoso aos mais jovens navegantes literários. Os três personagens cruciais da trama são: Basílio, o pintor de retratos, Lord Henry, o aristocrata rico e Dorian Gray, o jovem nobre, cuja vida é o grande ponto central de toda a história.  

Ganhei um exemplar de O Retrato de Dorian Gray de um grande amigo. Tornei-me, então, grande admiradora de Wilde e pude ter um contato abrangente com a obra. Esse livro tem outros contos que Wilde escreveu também para o teatro, na perspectiva de tornar-se mais conhecido e ganhar dinheiro com seu talento. 

Abordando ponto de vista muito pessoal e particular, o discurso de Lord Henry pode insuflar um estigma filosófico muito forte, capaz de extrair os leitores da trama para eles mesmos. Lord Henry, um personagem aliciador e curioso conquista facilmente a antipatia dos leitores através do seu comportamento frio e sarcástico. Lord Henry transforma-se num grande amigo e influenciador do jovem Dorian, apresentado a ele por Basílio, retratista que tem por Dorian verdadeira adoração e inspiração artística. 

É na Inglaterra do século XIX que Oscar Wilde revela sua impressionante robustez e aptidão literária. O retrato, símbolo estético de toda uma época, pode ser entendido como um suporte, um caminho material que leva e ajuda o leitor a enveredar pelas vidas e compreensões que o discurso de Wilde permite. Ele adentrou pelas coberturas mais frágeis do psiquismo dos dois últimos séculos, dissecando a alma, o erotismo e a arte refletida na vida das pessoas.

“Como é triste - murmurou Dorian com os olhos fixos no seu retrato. Como é triste! Tornar-me-ei velho, horrível, espantoso. Mas este retrato permanecerá sempre jovem. Não será nunca mais velho do que neste dia de junho... Se eu ficasse jovem e esse quadro envelhecesse! Por isso daria tudo! Daria até minha própria alma!” 

O retrato de Dorian Gray fala do poder da imagem sobre o humano que se sufoca, eterniza e desvenda a si mesmo. A obra é uma análise psicológica das mentes da época e todo o esforço pela busca do eterno. É neste contexto que se desenrolam as questões do ser. Dessa forma, Wilde enlaça os personagens na sua teia trágica e pegajosa de acontecimentos, exibindo com crueldade os adornos trágicos do sentimento humano.

Um retrato envelhece e mantém indissolúvel o objeto da pintura, o ser humano, representado pela figura de Dorian. Este é o seu grande desejo e ao mesmo tempo, seu grande segredo cruel. Sua beleza, com o passar dos anos intacta, resoluta e indestrutível contrasta com aquele retrato vivo, refém das vicissitudes e da dor do passar do tempo. Ele sim, não permanece intacto. Realizado na projeção do belo rapaz, o retrato é uma parte viva fora de Dorian. Ele é a própria vida e alma revelada nos recônditos que nem ele e sua beleza, a máscara frágil de Gray revela ao mundo. 

A figura de Lord Henry, espécie de alter ego de Wilde, hora cientista e psicólogo vê em Dorian Gray um objeto de análise para suas teorias existenciais e filosóficas. É um personagem importante para compreensão do texto, apesar da sua influência controversa na personalidade de Dorian. 

A sua presença marcante centra o leitor no tempo cronológico, contextualizando e engrandecendo a obra com todo seu potencial retórico, atemporal e humanístico. Crítico, lúcido e pragmático, Lord Henry sabe e conhece tudo. Passa a influenciar as idéias e o comportamento de Dorian, que vive ainda numa fase espectral, mas prestes a abrir-se e viver toda a beleza trágica do seu destino. 

Portanto, caros leitores, preparem-se para as emoções e revelações desta história, deste livro arauto, que é um dos primeiros retratos da alma pós-moderna dos nossos tempos.

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