FAKE LOVE E O AMOR NO BUNKER DA CRISE EXISTENCIAL

terça-feira, outubro 17, 2017 Marcos Henrique de Oliveira 0 Comments


O amor não prospera em corações que se amedrontam com as sombras. - William Shakespeare
Uma das coisas legais no estudo da Sociologia e do comportamento humano é perceber que, mesmo com todo o avanço tecnológico e todas aqueles coisas bonitas que podemos ter para sermos chamados de "modernos" e "a nova geração", o imperialismo biológico ainda é quem domina. Ainda somos "como nossos pais", como nossos avós e também como aquelas primeiras tribos primitivas que deram origem a humanidade. O que nos motiva, é o que sempre nos motivou: sobrevivência, alimento, proteção, sexo e Amor.

Porém, como estamos no ápice de um salto evolutivo social como o dos últimos 10 anos, a coisa se complicou. Assim como ocorreu em outras décadas de grandes mudanças sociais, estamos cansados e confusos, estressados e ansiosos por algo que não sabemos muito bem o que pode ser. Com tanta coisa para desejar, não sabemos o que queremos. E com tanta coisa que guardamos como preciosas, não sabemos o que deve partir. 

A solução seria então fingir que sabemos, que estamos preparados e conscientes do que vem por aí? Não estamos. E por isso, fingimos. Fingimos até se tornar real porque, para muitos, o real é o mais seguro. Ou será que não?

TUDO PODE SER FAKE. TUDO PODE SER REAL.


Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação. - Clarice Lispector
O Capitalismo Moderno possui uma característica de atração muito interessante. Ele vende a mensagem de que você está inserido no contexto. Ele diz que você pode, que você precisa. Mais ainda, que você deve. Você deve comprar aquele carro ou sapato, você precisa de um plano de seguro que proteja o que é seu, você pode e merece a felicidade do show, da viagem e (por quê não?) do Amor. No modelo capitalista antigo, a ideia de consumo era voltada para o poder e para estabilidade social. Servia, principalmente, para você se sentir seguro dentro do seu "Status Quo", da sua classe social. Agora, o jogo mudou.

Com a chegada das gerações mais idealistas, sonhadoras e sensíveis (aquelas nascidas depois dos anos 90), os sentimentos relacionados ao prazer, felicidade, bem-estar, amor e sexo se tornaram mais "vendáveis" e foram incorporados aos gatilhos de compra já existentes. Agora você pode ser feliz em 25 vezes, sem juros, no cartão. Ou pode fingir que é. Seja você pobre ou rico, a questão não é o quanto você paga mas como vai se sentir a respeito. E a publicidade e propaganda, o comércio e o marketing, as emissoras de televisão e as mídias sociais, sabem que você sente muito, sente sempre, não para de sentir, não é verdade?

Como não poderia deixar de ser, todo esse sentimento urgente pelo que podemos ter e não temos (mas outros "sortudos" possuem) pode gerar uma grande ansiedade, tristeza e até violência. O Capitalismo Moderno não aumentou apenas o valor de um produto mas deu a este produto o status de fundamental e necessário como prazer e satisfação emocional. "Amo muito tudo isso" já foi um slogan famoso que continua na cabeça de muita gente como atitude. Nada mais óbvio então do que tratar o Amor como algo que pode ser consumido também. Em 25 vezes, sem juros, no cartão? Melhor ainda!

O AMOR COMO FAKE NEWS DO CORAÇÃO


A solidão produz insegurança — mas o relacionamento não parece fazer outra coisa. Numa relação, você pode sentir-se tão inseguro quanto sem ela, ou até pior. Só mudam os nomes que você dá à ansiedade.  - Zygmunt Bauman
Quando uma sociedade para de se reconhecer como tal, ou seja, não consegue mais desenvolver conexões de valor e contato participativo entre as pessoas, ela se fragmenta. Grupos ou partidos com pensamentos absolutamente diversos e contrários são formados e começam a discutir entre si por uma unidade que possa restabelecer o conceito anterior dessa sociedade que foi perdida. Com a perda de uma base social, perde-se também a sociabilidade e a desconfiança rola solta. É neste momento que os instintos primitivos de segurança, poder e controle pela sobrevivência (para manter o que é "seu") entram em cena. 

O Amor em uma sociedade fragmentada é urgente e desesperado. Amar pode se tornar um jogo de conquista em busca da unidade perdida. E como no Amor e na Guerra, vale tudo, a estratégia é conquistar primeiro e amar depois. O número de divórcios no Brasil cresceu 160% em 10 anos (veja aqui). Segundo a percepção de Mônica Guazzelli, advogada especialista em direito de família e sucessões, "casais jovens muito imediatistas, incapazes de lidar com as frustrações de um relacionamento depois de dois ou três anos de casados, quando o desgaste do dia a dia já pesa e os projetos de futuro começam a ser questionados", acabam se separando.

Em uma sociedade onde estar sozinho é um sintoma de isolamento e até de depressão, a corrida pelo Amor ou para se manter "feliz" constantemente, virou prerrogativa. Algumas décadas atrás, o pensamento tradicional não colocava a felicidade como um objetivo a ser conquistado. Ter um bom emprego, saúde, estabilidade financeira e uma família eram as metas. O Capitalismo Emocional mudou este pensamento e transformou o Amor e a Felicidade em Commodities, produtos de consumo rápido e passageiro com prazo de validade.  A "Fake News" do momento agora é convencer a si mesmo que a felicidade está lá fora e precisa ser conquistada a qualquer preço

 O AMOR QUE RESPIRA SEM MÁSCARAS



Lembrei que tinha lido em algum lugar que a dor é a única emoção que não usa máscara. - Caio Fernando Abreu
Do meu ponto de vista, a sociedade está passando por uma espécie de "segunda infância". A segunda infância é um termo da psicologia que estabelece uma crise de valores que precisam ser enfrentados e superados na maturidade. É quando a pessoa descobre que alguns daqueles sonhos de criança não vão se realizar, por mais que você tente. A questão não é se o sonho é válido. É se ele representa realmente o que você precisa ou se trata apenas de uma ilusão (Fake News) para evitar uma realidade que não se deseja.

Isso é complicado porque estamos exatamente no momento em que toda a comunicação em torno de nós, vende e comercializa o sonho: o sonho da casa própria, do casamento perfeito, do emprego ou do país dos sonhos. Ninguém gosta de enfrentar uma realidade de término e ter que cair das nuvens para acordar. Porém, basta ver o número de homicídios e atentados contra a sociedade (e contra as mulheres e a diversidade de gênero, principalmente) para entender que precisamos acordar de verdade para este processo de transformação que ecoa na sociedade mas que nasceu de uma insatisfação pessoal e de uma necessidade interna de mudança. E mudar, nunca é fácil.

O Capitalismo Emocional sempre vai te guiar para novos relacionamentos que "vendem" a Felicidade do Encontro Perfeito. Você vai acreditar e "curtir" até que esse "produto" perca seu prazo de validade, vai dizer que "a fila anda" e que "o que importa é ser feliz" e o processo vai se repetir. Seria como aquele ratinho na rodinha de exercícios. O ratinho não tem escolha, ele atende ao seu imperialismo biológico (e irracional) de continuar correndo para lugar nenhum. Para quem não é ratinho, a escolha me parece óbvia. Agradecido e até o próximo artigo!

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