SOB O DOMÍNIO DO BEM E O LADO OBSCURO DA BONDADE HUMANA

quarta-feira, setembro 07, 2016 Marcos Henrique de Oliveira 1 Comments


Há uma exuberância na bondade que parece ser maldade.   Friedrich Nietzsche

O conceito do Mal sempre me atraiu. Quando criança, enquanto meu irmão e irmãs colecionavam Turma da Mônica, eu lia gibis como Drácula, Lobisomem, Contos da Kripta, Pesadelo e por aí vai. Minha mãe tinha uma coletânea de Edgar Allan Poe, um dos meus primeiros livros na adolescência, seguidos de Charles Baudelaire e Fernando Pessoa. É, eu era(?) bem esquisito. 

Fui coroinha (não ria) dos 14 aos 16 anos e cheguei a ler todo o Antigo Testamento e o Livro do Apocalipse, além do apóstolo Marcos (por motivos óbvios). Mesmo seguindo por outros caminhos religiosos na vida adulta, sempre guardei a imagem da Bondade ingênua e altruísta de São Francisco de Assis e seus ensinamentos e o amor desapegado por animais e pessoas. Sua biografia reside ao lado de outros livros como o Malleus Maleficarum (um manual de 1847 que ensina como caçar bruxas), Joseph Campbell, Jung, Krishnamurti, dentre outros.

E tudo isso para tentar encontrar a resposta para uma pergunta não muito simples: O que é a Bondade e o que é a Maldade?

O LADO BRANCO DA FORÇA

 
Não devemos permitir que alguém saia da nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz. - Madre Teresa de Calcutá
Basicamente, nosso primeiro contato com a Bondade ocorre na infância. É principalmente na infância que aprendemos as definições e atitudes "do que é ser bom". Não estou falando de carinho e do amor que, com sorte, recebemos de nossos pais e a família mas do que aprendemos com eles sobre como nos relacionarmos com "os outros" e as regras sociais básicas para convivência em geral.

Sendo assim, a primeira visão da Bondade é externa e social. É a forma como tratamos e nos relacionamos do nosso lado de fora. Se tudo der certo, a criança irá descobrir que "ser bom", inclui respeito e delicadeza, bons modos e atenção aos valores difundidos pela sociedade na qual irá participar no futuro. Em resumo, a Bondade deveria ser ensinada como parte essencial e fundamental da educação necessária para todos nós, da mesma forma que o alfabeto, a matemática, ciências, etc.

Mas não é bem assim que acontece, né?

Em primeiro lugar, a Bondade é "sequestrada" por regras e valores muito particulares. Nos tornamos "bons" dentro de um sistema de crenças que já foi estabelecido pela visão do mundo que nossos pais e família estabeleceram para si mesmos. Pode ser uma crença religiosa, política, social ou separatista e segregadora. Infelizmente, a Bondade é ensinada, na sua maioria, como tratar bem quem é igual ou semelhante ao seus sistema de valores e concorda com você.

Ou seja, a Bondade é aprendida dentro de uma mentalidade de grupo e não de Humanidade. E esse é o começo do "lado negro" da Bondade.

O LADO NEGRO DA BONDADE 


A natureza humana é capaz de um mal infinito. (...) Hoje, como nunca dantes, é importante que os seres humanos não subestimem o perigo representado pelo mal que espreita dentro deles. Ele é, infelizmente, bastante real, e é por essa razão que a psicologia deve insistir na realidade do mal e deve rejeitar qualquer definição que o considere insignificante ou na verdade inexistente. - C. G. Jung

Talvez seja difícil para você entender que a sua Bondade seja um "modelo" de Bondade e não um princípio universal ou uma escolha pessoal. Isso porque a Bondade inclui tolerância, igualdade, julgamento correto e consciência. A dificuldade aumenta quando descobrimos que quase ninguém nos ensinou a sermos bons com nós mesmos, a não carregar culpas e tecer julgamentos superficiais sobre tudo. 

Você pode se culpar por não seguir corretamente, por exemplo, qualquer mandamento religioso ou prática de aperfeiçoamento que aprendeu em família ou em grupos específicos. Você pode ter medo da "Ira de Deus", do Torá, de não conseguir meditar ou qualquer outra filosofia de vida que tenta seguir. A Bondade parece exigir um grau de perfeição que, simplesmente, não podemos cumprir como seres humanos, já que estamos sempre evoluindo e retrocedendo nas nossas atitudes.

Na verdade, parece muito mais fácil e natural, exercer a Maldade no trânsito, no estádio de futebol, nas fofocas sobre a vida alheia dos almoços de domingo, no anonimato dos Haters das Redes Sociais. E, na certeza que apenas nós (individualmente ou em grupo) temos a Bondade que o mundo precisa, é que os maiores atos de Maldade são cometidos

O EQUILÍBRIO DA BONDADE E O HERÓI FALHO


Pratiquem a bondade, não criem sofrimento, dirijam a própria mente. Esta é a essência do Budismo. - Buda
O conceito do Herói Falho é muito comum na Literatura e na Cultura Pop. Odisseu ou Ulisses é um dos melhores exemplos do herói que sente raiva, dúvida de si mesmo, mente, trapaceia e pode ser implacável contra seus inimigos. Em outras palavras, ele é genuinamente humano. Junto com ele, temos Batman, Super-Homem, Homem-Aranha e todo herói que você conhece que sempre está em conflito com algum dilema moral ou ético. Inclusive você mesmo. E eles podem (e normalmente são) muito maus com os maldosos.

O Bem e o Mal, o Bom e o Mau, são pontos de vista. Entre uma definição e outra, existe um enorme deserto cinza para se caminhar. É comum ver pessoas "boas", completamente cegas sobre a própria Maldade que praticam com naturalidade ao criticar comportamentos e modelos de vida divergentes. É uma Bondade que surge do Ego e da arrogância de uma razão e verdade que não pode ser questionada pelos "outros", uma Bondade muito perigosa que é facilmente compartilhada como "apenas um comentário".

No caminho do Herói Falho ou Trágico, ele aprende que nem tudo é preto no branco. A pessoa que se fechou na sua própria Bondade, não. Dar sopa aos pobres na madrugada, fazer parte de uma ONG ou defender os direitos dos animais é apenas parte do processo de conscientização da Bondade. A outra parte, quase sempre esquecida, é entender o Mal. Não apenas o Mal que existe no mundo, nas pessoas. Mas, principalmente o Mal que existe em cada um de nós. 

A SOMBRA SABE...E VOCÊ TAMBÉM


O mal existe, mas nunca sem o bem, tal como a sombra existe, mas jamais sem luz. - Alfred de Musset

Neste momento da leitura, você pode acreditar que está protegido do Mal por alguma crença ou fé, pela sua inteligência, por tudo que já realizou de Bom e altruísta na vida (segundo a sua própria avaliação, é claro). Você pode acreditar, inclusive, que tudo que leu acima é uma grande besteira, filosofia barata e descartável. São escolhas possíveis e você tem todo o direito de fazê-las. Ou...

Você pode experimentar pensar na sua relação com a sua Maldade e Bondade, pra variar. Mas como?

Um dos exercícios mais difíceis da meditação é o "pensar sobre" ao contrário de "pensar com". Pensar sobre bondade, maldade, raiva, rancor, felicidade, inveja, amor ou qualquer outro sentimento ou atitude, necessita de um forte desapego emocional.  Se você for meditar, por exemplo "sobre" a raiva, você não pode estar "com" a raiva. O pensamento precisa estar em um lugar e o sentimento em outro, onde a "raiva" é objeto e você é o observador. Muita gente desiste de meditar, logo de cara, porque não conseguem fazer esta separação inicial.

Por quê as pessoas consideradas "boas" também são vistas como ingênuas, inocentes e desprotegidas? 

Uma resposta possível é que estas pessoas não "pensam sobre" o assunto, assim como não pensam na maldade que entra disfarçada em um tom grosseiro nas reuniões de trabalho, na maneira bruta de algumas atitudes do cotidiano. Provavelmente, você pensa nisso tanto quanto na vida das lhamas. E isso não é, necessariamente, uma escolha inconsciente da sua parte.

Você segue em frente, acreditando que isso é apenas um traço forte da sua personalidade bondosa e sempre disponível para ajudar. Afinal, "pessoas boas" sempre estão dispostas a ajudar, enquanto reclamam durante longo minutos sobre quem não ajuda, sobre o governo, o vizinho e outras tantas pessoas "más" no mundo (que pode incluir os pobres, os ateus, os terroristas, etc, etc, etc).  

A BONDADE É UMA ESCOLHA 


Qualquer tipo de maldade é resultado de alguma deficiência" - Sêneca
Você não é tão Bom quanto pensa e nem tal Mau quanto acredita. Bondade e Maldade são atos, eles precisam ser executados para serem percebidos, interna e externamente. Não existe Bondade ou Maldade passiva. Podemos praticar a Bondade por nós mesmos, pela Meditação de nossos atos e pela reflexão das nossas ações sobre o ambiente, a sociedade e as outras pessoas. Podemos praticar a Maldade sendo exageradamente fechados em nossos pontos de vista e na defesa férrea de nossos valores.

Bondade e Maldade são circunstanciais. São ativadas pelo que você pensa, acredita, supõe e duvida. Dependem da sua consciência, sentimento e estado emocional relativos ao assunto, pessoa ou local. Pessoas boas podem ser tão egoístas quanto as más. Pessoas más podem amar seus filhos e família tanto quanto as boas. É nessa relatividade doida que podemos aprender mais sobre nossas próprias virtudes e deficiências. E fazer escolhas conscientes.

Espero que este artigo tenha despertado a sua curiosidade sobre a Bondade e, principalmente, sobre o Mal. Existem muitos livros sobre os dois assuntos. Vai lá descobrir. E tudo de bom pra gente!!! Até a próxima!

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1 comentários:

Unknown disse...

Muito bom ler isso em momento de aflição,só que mesmo assim -nos perdemos no meio do caminho sem saber para que lado seguir:'(