Palavras - Descobrindo seu amor pela linguagem

quarta-feira, outubro 27, 2010 Marcos Henrique de Oliveira 0 Comments

Placas, faixas, muros pintados. Era ano eleitoral: 1990. Boníssima oportunidade para quem estava engatinhando na leitura. Eu acabara de ser alfabetizada e já começava a “saborear” as primeiras sílabas que saiam de forma inocente ao serem visualizadas nos muros da cidade, pintados a mando de políticos. 

Eu até que ouvia as pessoas falarem sobre política, mas eu nem fazia questão de entender o que era e para quê servia. LO-BÃO pra mim era uma palavrinha, apenas isso. De que ia me servir entender que era um candidato ao Governo do Estado do Maranhão? Eu tinha apenas cinco anos e tudo o que eu queria era ler. Apenas ler.
Deliciava-me nas placas e nas faixas espalhadas pela cidade, queria descobrir como aquelas letrinhas do alfabeto, que eu passei um tempão conhecendo, desenhando, “funcionavam” nas palavras.
Pa-la-vras. Ah, como eu desejava ler certas palavras. Lembro-me que demorei para conseguir ler va-ga-lu-me. Não sei o porquê, mas eu só lia ga-va-lu-me. Trocava as sílabas e me tornava motivo de chacota entre meus irmãos. Logo eu que me dedicava tanto ao exercício da leitura? Eu os achava muito injustos, por isso não desisti e continuei minha caminhada.
Outra fonte de leitura importantíssima para mim foram as embalagens. As marcas impressas nos rótulos das latas, dos potes e dos sacos eram meu fascínio! Meus pais eram comerciantes e, como eu era a caçula, para não ficar muito tempo longe deles, me levavam para o comércio.

Até hoje chamo sabão em pó de OMO, leite me pó de NINHO e detergente líquido de LIMPOL, será que foi a leitura dinâmica nas prateleiras? Não sei, mas o que sei é que fui crescendo e a leitura foi mudando... Eu já não lia só por curiosidade pela leitura, lia por necessidade do conhecimento
Outro dia, passando na rua vi uma menina ler um rabisco na parede: “viadagem”, mas o que estava escrito era “vadiagem”, percebi que a pessoa que estava com ela perguntou se ela sabia o que era aquilo e ela respondeu: “uma palavra, mas eu não sei o que quer dizer”. Essa menina vai crescer e, espero que ela não só aprenda o que aquela palavra feia que ela leu sem nem saber o que era como também desejo que ela também busque a leitura pela necessidade do conhecimento.
Imagino que a leitura comece de forma muito parecida na vida de toda criança, mas é a forma que ela vai sendo conduzida que faz a diferença na vida da pessoa. Durante toda a minha infância gostei de ler. Engraçado que gostava de ouvir as músicas, escrevê-las para depois ler. Parecia maluquice, mas era a forma que eu tinha de valorizar algo que eu considerava muito importante. 
Um dos momentos mais esperados na escola era a leitura dos textos de língua portuguesa, nos quais eu sempre era uma das pessoas que lia em voz alta para que todos entendessem. Na adolescência, começaram a surgir as leituras obrigatórias. Eu, particularmente, não considerava obrigatória, já que eu gostava e não via a hora de trocar meu livro na biblioteca da escola. 
É uma pena imaginar que muitos de meus colegas pegavam o livro para ler pelo simples fato de ser obrigatório e por saberem que cairiam questões a respeito dele nas provas. Acredito que hoje eles, adultos, sintam falta desta leitura que, apesar de obrigatória, não fora levada a sério.
O prazer pela leitura é construído individualmente, por isso depende muito de cada um. Da escolha que cada pessoa faz e da maneira que ela conduz esta escolha. Lembro-me quando uma professora me pediu que fizesse a leitura do livro “Menino de Engenho” e eu não queria ler por, simplesmente, não conhecer o autor. Eu não queria ler, mas li.
Li, gostei e recomendei. E recomendo até hoje. Esse foi o primeiro livro do autor José Lins do Rego que escreveu livros muito bons. Gostei tanto da obra que comecei a buscar outras do mesmo autor, a começar por “Doidinho”, praticamente uma continuação do “Menino de Engenho”.
E muitas outras busquei e muitas outras chegaram até mim. Saboreei todas, mesmo aquelas que não considerei apetitosas. De José Lins do Rêgo e de outros autores, mas aí são outras histórias...

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