O ANO NOVO DAS COISAS VELHAS E O QUE REALMENTE IMPORTA

segunda-feira, janeiro 04, 2016 Marcos Henrique de Oliveira 3 Comments


É um erro tentar ver muito longe no futuro. A corrente do destino somente pode ser puxada um elo por vez. - Winston Churchill

E então, chegou o Ano Novo. Você já viajou para praia ou pro mato, já estourou champagne, já pulou sete ondinhas, já festejou com parentes ou amigos e viu os fogos de artifício. Também já dormiu muito, assistiu alguma retrospectiva na tv e comeu lentilhas, jurou parar de fumar ou emagrecer e desejou outras tantas coisas.

Chegou o Ano Novo e já escuta gente dizendo que esse ano vai ser difícil, olha a crise, olha isso e aquilo e toma cuidado com o emprego, o casamento, o namoro, a saúde e sei lá mais o quê. Chegou o Ano Novo mas parece igualzinho a tudo que tinha no ano que passou. O Ano Novo das Coisas Velhas que continuam e continuam e continuam.

O mundo é governado pela previsibilidade. Saber o que pode acontecer (de mais provável) é o que movimenta a Bolsa de Valores, a propaganda e publicidade e o mercado de compra e venda. Mesmo que você se considere uma pessoa imprevisível, hábitos adquiridos durante anos demonstram o contrário. Fazemos certas coisas o tempo todo e nem percebemos. A repetibilidade não é boa nem má por si mesma. Mas entre a bigorna e o martelo do Tempo, pode ficar difícil saber se estamos em progresso ou estagnados em um determinado momento.

O tédio é um sintoma da previsibilidade e um sinal positivo para mudança (que a maioria não percebe). Sentir tédio é o alerta de que algo precisa mudar ou ser transformado. Sua origem é o Latim taedium, “enfado, desinteresse, repugnância”, de taedere, “cansar, trazer monotonia”. 

O tédio é confundido facilmente com o ócio (preguiça) mas não é a mesma coisa. De qualquer forma, tédio e preguiça são indicativos que é hora de dar um reset (reajuste) na sua história e começar de novo. Ou melhor, começar o novo. Só que apertar esse botão de maneira correta, pode não ser fácil.

Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito.
 Machado de Assis 
  
Hábitos e padrões de comportamento são criados para fornecer uma sensação de conforto  e uma constante segura na vida. É aquilo que você já conhece, que já foi adaptado e incorporado na sua rotina. Essa "segurança" é quebrada pelo tédio. É sempre bom lembrar que o hábito é seu e o tédio também. Outras pessoas ou lugares não são responsáveis pela sua insatisfação.

É você que se pega pensando no futuro, nas suas economias, amores e empreendimentos diversos. É você que cria a dúvida e pensamentos estranhos sobre a sua situação atual. É você que começa a discutir internamente consigo mesmo sobre assuntos que antes pareciam certos e inquestionáveis.  Enfim, é você mesmo que está pedindo algo que ficou para trás em algum momento: a sua perspectiva. 


Perspectiva é uma palavra meio complicada mas com significados profundos e definidos que são filosofia pura:

  1. Do Latim VISIO, “ato de ver, objeto visto”, de VEDERE, “ver, enxergar”;
  2. Do L. PERSPICERE, “ver através”, de PER, “através”, mais SPECERE, “olhar para”;
  3. Do L. COLLIGERE, “escolher”, formado por COM, “junto”, mais LEGERE, “catar, colher”. O verbo relativo a ela é “escolher”. (origemdapalavra.com.br)

Olha só, a perspectiva vem antes do ponto de vista e não são a mesma coisa (um dos motivos de tanta confusão mental nas situações de tédio)."Olhar para" + "Escolher" + "Colher"= Perspectiva. Apenas depois dessa "colheita" é que se torna possível formar um ponto de vista que contenha informações para tomar uma atitude de mudança. Portanto, mudar começa por dentro e depois para fora e não o contrário.

Acontece que nossos pontos de vista são inundados por "achismos" vindos das mais diversas fontes como a internet, conversas nas redes sociais e afins. Vai depender muito do seu estado mental/emocional para não abraçar ideias ou pensamentos alheios só para sair de  uma situação que considera frustrante ou difícil.  

É importante perceber que, se não houver uma triagem na sua coleta de dados, você pode acabar sem perspectiva nenhuma e no mesmo ponto em que parou. É neste momento que uma pergunta importante precisa surgir: O que realmente importa?


Algumas pesquisas realizadas por Ongs e universidades demonstraram que nossas principais preocupações estão relacionadas com família, saúde, amor, trabalho e dinheiro. Todos esses tópicos interagem para aumentar ou diminuir o grau de ansiedade entre si. Cada um possui sua própria perspectiva e ponto de vista determinante. 

Dependendo das suas crenças, você pode ficar preso em um pensamento filosófico limitante como "somente Deus pode mudar a minha vida" ou "todos vamos morrer um dia, então não existe sentido em mudar" e o pior "não vejo nada que precise mudar em mim, somente nos outros". São milhares de exemplos que servem apenas para esconder a sua necessidade de mudança e aumentar a sofrência. Novamente, é preciso focar na pergunta:

O que realmente importa?


A primeira fase para perspectiva de valor é a mais complicada. O nome bonitinho é foco-interior ou autofoco. O nome feio é egoísmo. No mundo compartilhado em que vivemos, separar-se da multidão, dos grupos das redes sociais e dos problemas familiares que pedem sua atenção e participação é um dilema e um desafio. 

Você vai encontrar pessoas que vão dizer que você está sendo irresponsável e até arrogante na sua postura distanciada. O objetivo neste caso é "esvaziar" a sua carga emocional e mental para ganhar foco e discernimento. Tenha calma com essa turma e siga em frente.

Gosto de uma frase (não lembro o autor) que diz "Doente não cura doente". Certifique-se apenas que o seu isolamento (para buscar seu autofoco) não seja uma desculpa realmente egoísta de não-participação no mundo. Se não for, vá para o seu canto predileto e pratique o foco-interior para encontrar sua perspectiva. O tempo para isso é pessoal, mas cuidado para não ficar nessa mais do que duas ou três semanas e transformar o processo em procrastinação, ok?



A segunda fase para perspectiva de valor chama-se propósito e deixar morrer. “Declarar, colocar à frente” são algumas definições para propósito. É onde o seu autofoco encontra uma intenção dirigida para o que importa e porquê importa.  

Quando você define o que realmente importa, chegou a hora de deixar morrer o desnecessário. Pode ser um relacionamento, um hábito ou um ponto de vista. Deixar de acreditar em algo que cultivou durante anos pode ser desafiador mas também muito revigorante. 

Você provavelmente vai ficar triste e isso faz parte do processo. Tentar se convencer do contrário também. Lembre-se que aquilo que "não matar" pode virar um belo "walking dead" emocional que vai te acompanhar por bastante tempo. #nãomeacompanhaquenãosounovela nele!


A terceira fase para perspectiva de valor chama-se Ação no Tempo ou Mudanças Irrestritas. Você já passou pelo autofoco, já separou o joio do trigo, agora é hora de plantar. E plantar não é colher. Ação no Tempo significa saber que está trabalhando para realizar o seu propósito, que isso representa uma mudança irrestrita (ampla, ilimitada) na qual você vai empregar todas as suas energias, habilidades e recursos para tal.  

Se "Olhar para" + "Escolher" + "Colher"= Perspectiva, então esta é a fase mineradora e paciente de peneirar e capinar seu novo espaço ou território de conquista. Um passo de cada vez, um único propósito para cada situação (família, saúde, amor, trabalho e dinheiro). Você pode atingir um propósito em apenas um mês e outro pode levar anos. Não importa, contanto que exista alguma Ação no Tempo. Se você tem a certeza que está agindo, que está em movimento, o stress vai ser bem menor e o tédio também. Plante, trabalhe e colha


Tentei resumir algumas dezenas de livros (nenhum deles de autoajuda, credo!) e práticas de mudança para que o seu ano comece bem legal, com perspectiva e propósito. Nada aqui representa algo que não possa ser adaptado ou mudado por você. Coisas diferentes importam para diferentes pessoas e somente você pode decidir o que deseja "importar" e "exportar" em si mesmo, ok?

Neste ano, o AGE - A GENTE ENCONTRA ganha uma nova seção chamada O Melhor de Meus Livros, onde estarei comentando os livros que fazem parte da minha formação profissional e pessoal. Espero que gostem!

Sorte, saúde, prosperidade e muita leitura para 2016 e até a próxima!

O AGE INDICA

A Jornada do Herói: os 12 passos de Campbell
A coragem de criar - Rollo May
BJ Miller: What really matters at the end of life (O que realmente importa no fim da vida, vídeo legendado)
Existentialism and Buddhism -- Points of Linkage (sem legendas)
Existencialismo e Psicologia Existencial 
O Movimento Existencialista como Quebra de Paradigma

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3 comentários:

Unknown disse...
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Unknown disse...

Esse texto ė bem polêmico.
Eu estou trabalhando para promover as tais mudanças em minha vida.
São mudanças necessárias confesso,porém,nem sempre estamos dispostos ou melhor livres para as escolhas que precisamos fazer na nossa vida. Grata por me passar esse post ,me ajudou muito!

O prazer é meu em saber que algum artigo do AGE pode servir de ajuda para melhorar ou refletir sobre a vida. Sobre a liberdade, lembre-se que uma semente não controla o Tempo, se vai ter luz ou água para sua sobrevivência e desenvolvimento. Todos nós possuímos um grau de liberdade pessoal (que é diferente da liberdade social) para agir de acordo com a nossa consciência sobre o que nos afeta e como respondemos à isso. O autofoco é para descobrir esse potencial e criar perspectivas para se preparar para, primeiro, plantar e depois colher.

Paciência, perseverança e boa sorte no seu caminho. Agradeço pelo seu comentário :)