POBRE FASHION - A GLORIFICAÇÃO DA POBREZA NA CULTURA POPULAR

sexta-feira, outubro 09, 2015 Marcos Henrique de Oliveira 0 Comments


Assunto espinhoso e difícil de escrever sobre a pobreza na Cultura Popular pelo simples fato da própria Cultura ter ganho uma identidade que beira a bipolaridade ou a um transtorno de personalidade com o passar dos anos. Mais difícil ainda é não parecer elitista e cair em extremos ao defender a educação e o ensino como valor essencial para entender aquilo que se gosta e porquê gosta. Haters do politicamente correto vão odiar. Ativistas também. Mas como diria Hamlet, "Às vezes é preciso ser cruel para ser bom".


A pobreza nunca foi tão "cultuada" como agora. Queridinha apenas de políticos em todos os tempos de eleição e promessas vazias, o modelo "pobre-style-of-life" ganhou duas novelas na principal emissora do país, reality shows e nomes pomposos como "poorgeoisie" (jovens da classe média, na faixa dos 20 anos que se travestem de pobres, usam roupas caras detonadas e frequentam lugares luxuosos e modernos mas se recusam a tomar banho, fazer a barba e lavar suas roupas como forma de manifesto passivo), "poverty chic" (pobreza chique) e "Hobo Chic" (mendigo chique). O fenômeno é mundial e não apenas brasileiro.

Tente identificar o verdadeiro "pobre" e o milionário poorgeoisie na imagem abaixo, se puder:


Aparentemente, legal mesmo é ser pobre e sofrido (ou aparentar sofrimento), escolher uma causa para chamar de sua e defender o direito ao pós-materialismo ou qualquer outra filosofia, mesmo que você nem saiba direito o que isso significa. Também pega bem subir o morro, dar um pulo lá na "comunidade" e tomar uma cerva com os "sangue bom", curtindo um funk ostentação com direito a selfie nas redes sociais. Resumindo, seria algo como o slogan da Revolução Francesa (1789-1799), Liberdade, igualdade, fraternidade, fazendo quadradinho de oito. 


Muitas vezes classificada como cultura tradicional ou cultura de massas, a cultura popular é um conjunto de manifestações criadas por um grupo de pessoas que têm uma participação ativa nelas.(...) A cultura popular é influenciada pelas crenças do povo em questão e é formada graças ao contato entre indivíduos de certas regiões. Pode envolver áreas m música, literatura, gastronomia, etc. (...) Apesar das duas expressões serem frequentemente usadas como sinônimos, algumas pessoas fazem a diferenciação, referindo que a cultura de massa revela um produto ou vertente cultural que é difundido para as grande massas, muitas vezes para todos o mundo. A cultura de massa é frequentemente divulgada em meios de comunicação de massa, e na grande maioria dos casos, é incentivada por indústrias com o objetivo de obter lucros. Exemplo disso é Coca Cola, MacDonald's, pizza, etc. (grifo meu) (http://www.significados.com.br/cultura-popular/)
Longe dos holofotes e de todas as telinhas, a verdade é que o pobre real, continua pobre e necessitado. Na ilusão do acesso compartilhado, no aconchego do tradicional paternalismo brasileiro, crianças continuam sem estudo, jovens sem trabalho e idosos sem aposentadoria. Não seria justo afirmar que não existem pessoas e organizações fazendo o possível para mudar este cenário. Sim elas existem e não são poucas mas a glorificação da pobreza já atingiu até mesmo estes espaços, gerando um automatismo no tratamento com quem precisa mais do que uma geladeira ganha no programa de domingo. 


Ideologias boas e verdadeiras são deturpadas desde a época de São Francisco de Assis (visite um convento franciscano hoje e não se assuste ao encontrar tv LED e Full HD, internet e a Netflix nos aposentos dos frades). A cultura de massa, como visto acima, atende aos interesses de um mercado que precisa da massa pobre como alavanca para comércio e negócios e precisa, principalmente, de pessoas bem intencionadas como você para fazer o serviço sujo. E basta um bom marketing de guerrilha para que você faça bonitinho, sem questionar nada e ainda estampar um belo sorriso ao lado de um descamisado qualquer. 

Aliás, você já viu esse filme: foi o que aconteceu com as populações indígenas em todo mundo em um processo de aculturação que dura até hoje e não melhorou em nada a dignidade e as condições da raça vermelha.


Na periferia da moda da glorificação, a verdadeira cultura popular como a literatura de Cordel, Bumba meu boi ou boi-bumbá, o jongo e tantas outras, perdem cada vez mais espaço na mídia, interesse da população jovem e oportunidades de investimento em projetos culturais e afins. 


Do outro lado, o população pobre aumenta sua simbiose (interação entre duas espécies que vivem juntas) e abraça o capitalismo oferecido pelos famosos e celebridades que tomam champanhe ao som de Mc Pedrinho (que me recuso a colocar até um link, procure e sofra). Depois, um volta de ônibus e o outro de jatinho, é claro.

Para terminar, não dá para esquecer que a cultura erutida (aquela considerada superior) vira coisa de "intelectual" e "metido", uma estratégia para disfarçar a falta de incentivo na educação pelo governo, empresas e associações religiosas. Nada como focar no extremismo para defender causas vazias, não é?


Este artigo é apenas um esboço de uma situação que permite muito mais argumentação e desdobramentos (estudantes de sociologia, o tema é um prato cheio, aproveitem). A ironia do bom mocismo é exatamente essa: ao tentar salvar o monstro, tentando entendê-lo em sua ignorância sofrida, podemos nos tornar a próxima refeição. Ou, quem sabe, virar belos e felizes monstrinhos também.

Neste caso, tem muita gente indo, sorridente, para panela. Até a próxima!

O AGE INDICA:
Cultura de massa, cultura popular e cultura erudita
Como parecer pobre virou o novo símbolo de status (em inglês)
A Ascensão dos Poorgeoisie (em inglês)  

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