LIQUID WORDS - O QUE AS PALAVRAS FALAM MAS NÃO DIZEM

segunda-feira, setembro 28, 2015 Marcos Henrique de Oliveira 0 Comments


O sociólogo Zygmunt Bauman tornou-se recentemente um queridinho nas Mídias Sociais ao cunhar a expressão "modernidade líquida", publicando uma série de livros sobre o tema. Amor, relacionamentos, política, patriotismo e cidadania, nada parece escapar da fragilidade moderna de nominar tudo, colocar na caixinha e deixar bem mastigadinho para consumo rápido, sem a necessidade de reflexão ou ponderamento. 

Nem Bauman e as própria palavras conseguiram escapar do sequestro de sua identidade essencial e se transformaram em uma espécie de "sucrilhos existencial" para serem usadas, com açúcar e afeto, em qualquer ocasião. Palavras "novas" como empoderamento, story-telling (contar histórias, sucesso total para qualquer planejamento de campanha publicitária) e muitas outras saíram do anonimato do dicionário para as bocas do discurso dito inteligente e moderno. 

Viver entre uma multidão de valores, normas e estilos de vida em competição, sem uma garantia firme e confiável de estarmos certos é perigoso e cobra um alto preço psicológico. -
Zygmunt Bauman, Modernidade Líquida

Um conceito pouco conhecido (ou reconhecido) é o do esgotamento da força e valor de qualquer elemento ou energia quando esta se torna disponível para todos. Pense em um milhão de Monalisas, centenas de Einsteins, montanhas de ouro ou aquilo que se deseja, jogado aos seus pés. A palavra empoderamento, por exemplo, agora faz parte de qualquer discurso sobre direitos, igualdade e reconhecimento do "poder" de determinados grupos sociais. De forma irônica,  a palavra perde "poder" a cada dia, sendo usada para vender de celulares até faculdades. Bem diferente de termos como o movimento afro-americano "Black Power" que mantém até hoje sua legitimidade, talvez por não ter acontecido em tempos tão "líquidos".

Valdinei Calvento - ilustração
O empobrecimento de qualquer discurso poderia ser apenas uma preocupação para filósofos e desocupados se a sua relação com o cotidiano não fosse tão emergente (outra palavra que teve seus holofotes anos atrás): nos encontramos diante de um pensamento mecânico-social tão intenso que supostamente só conseguimos nos comunicar por até 140 caracteres (conhecido como comunicação escrita imediata, veja aqui).

Se você tem entre 16 e 25 anos, uma opção seria dar um grande "blah" para tudo isso...até o momento da redação para o Enem ou a chata descrição de si mesmo para vaga de emprego. Se você passou dos 40 anos, pode achar que é mais esperto do que a mídia e não "vai cai nessa" (#sóquenão). E para os mais velhos, fica a escolha de não pensar nisso porque "é coisa pra jovem cuidar". Bauman tem 89 anos. E continua pensando nisso e muito mais.


As palavras nunca foram tão importantes como agora. Escrevemos menos e escrevemos mais com menos palavras e menos discurso (que foi trocado por outra palavra difamada, atitude). A resposta para certas perguntas, pede criatividade para evitar a manipulação do discurso vazio e pomposo. Para nós brasileiros, que inventamos mulheres com nomes de frutas e criamos termos novos a cada dia (como marido-ostentação, prefeita-ostentação e outras aberrações), não deve ser tão difícil encontrar um caminho menos líquido e mais firme para desenvolver o pensamento e o sentimento de conteúdo. Uma dica: livros de grandes autores e filósofos para todos os gostos estão por aí faz tempo.

Até a próxima!



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