OVERSHARING - OS EXCESSOS DA LIBERDADE COMPARTILHADA.

terça-feira, setembro 04, 2012 Marcos Henrique de Oliveira 1 Comments


"A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo." - Fernando Pessoa

Era inevitável. Em algum momento (assim como aconteceu com o e-mail) as Redes Sociais iriam se entregar a orgia virtual do compartilhamento exagerado (esse tal Oversharing). A diferença aqui é que não se trata de um "spam", uma mensagem que você não quer receber: a questão é que estamos querendo tudo e pedindo mais.

A imagem que ilustra este artigo vem de um infográfico do que acontece na Internet em 60 segundos. Veja:


E tem mais:
  • O Google atende a mais que 694.445 consultas de pesquisa;
  • 370.000 + minutos de chamadas de voz são feitos por usuários do Skype;
  • 20.000 novos posts são publicados no Tumblr;
  • Mais 13.000 horas de streaming de música a partir de fluxos de sites como o Pandora;
  • Mais de 13.000 aplicativos para iPhone são baixados;
  • 6.600 imagens são publicadas no Flickr;
  • 600 vídeos (cerca de 25 horas de conteúdo) são enviados para o YouTube. (fonte:buzzom)
Já escrevi sobre a Neofilia em outro artigo (leia aqui) e essa compulsão moderna de colecionar tudo. De certa forma, o Oversharing funciona ao contrário: compartilhamos tanta coisa (que pode até ser útil durante um certo tempo) que acabamos por não reter nada de interessante. Se está lá na Rede Social, por que eu precisaria "guardar" na cabeça? 

Durante as Olimpíadas de Londres, no final de julho, uma prova de ciclismo acabou tendo problemas em exibir informações sobre a distância dos competidores por conta de falha na comunicação. O motivo: uma grande utilização da rede móvel no local pelo público. A audiência estava entrando em redes sociais para comentar a disputa e fazer upload de fotos e vídeos, sobrecarregando a infraestrutura e prejudicando a captação de dados de localização (GPS) nas bicicletas. Ou seja, ocorreu um “oversharing”, que levou o Comitê Olímpico a apelar à população para não utilizar tanto serviços como Facebook e Twitter durante as competições. - Revista Exame

Certo, tudo isso parece uma chatice. "Só faltava essa de querer me dizer o que eu posso publicar ou não", diria você. E chegamos a duas questões importantes, a da liberdade e a do respeito. Sou obrigado a citar George Orwell (autor do livro "1984" e do conceito moderno do "Big Brother"):

"Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir."
No momento politicamente correto em que vivemos, tudo mundo é sustentável, educado, inteligente e...chato. Ou deseja passar esta imagem virtualmente perfeita. Imagine receber uma rosa por dia. Imagine um "Eu te amo" a cada cinco minutos. Imagine todas as rádios tocando "Imagine" do Lennon sem parar.

Por que tudo é tão "novo e excitante" a ponto de ser compartilhado?


A resposta pode não ser tão agradável: a solidão. Se você é do tipo de internauta que compartilha até foto do café com pão de queijo...alguma coisa está errada. Já foi provado que a sociabilidade só cresce na vida real, na relação orgânica entre as pessoas e seus cinco sentidos. Nenhuma ferramenta social vai aumentar as suas habilidades em lidar com o outro. Alguém aí fica de mãos dadas com o mouse?

Mesmo entre os profissionais de Propaganda e Publicidade, o Oversharing está sendo visto como uma atitude agressiva (em termos de marketing) que irrita o potencial consumidor e prejudica a marca do produto. Parece que chegou o momento de equilibrar as coisas para todos, inclusive blogs como este. Menos quer dizer menos. De verdade.

Vários amigos virtuais estão optando por excluir os contados considerados "overchatos" e mantendo suas Redes Sociais apenas com aqueles que compartilham (ah-há!) um relacionamento real. 

Existe uma solução mais simples para isso: basta imaginar que, se você viu uma notícia interessante na internet, existe uma grande possibilidade do seu amigo virtual também ter visto. Pense nisso antes de compartilhar para os seus 8.000 contatos do Facebook/Twitter. Seja essencial ou seja repetitivo. A escolha é sua. Mas lembre-se: o tráfego é de todo mundo, literalmente.

Para matar de vez esse novo vício, vale a pena ver o vídeo feito pelo crítico de cinema Louis Plamondon (codinome Sleepy Skunk): uma compilação de todos os trailers promocionais de O Espetacular Homem-Aranha que resultam em 25 minutos (!) de cenas do filme. Menos, minha gente. Até a próxima.













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1 comentários:

Pedro Pacheco disse...

Um bom governo autoritário dava jeito neste momento.