NEOFILIA - A DOENÇA DOS COLECIONADORES DA NOVIDADE.

quarta-feira, setembro 05, 2012 Marcos Henrique de Oliveira 2 Comments


Pois é. Se você anda por aí nos últimos, digamos, 16 anos, já deve ter percebido que a sociedade em que vivemos resolveu botar o pé no acelerador. Na tentativa de alcançar o futuro antes que ele chegue (e isso representa um paradoxo), depositamos uma necessidade de urgência na rotina diária que se apresenta como uma busca desenfreada pelo novo. E qual é a novidade?

Nenhuma. Não existe mais. Quer dizer, pelo menos não na forma que desejamos. Na sociedade moderna, o desejo é alimentado por dois fatores principais: status e propaganda. A propaganda cria a necessidade de consumo, alimenta dentro de você a troca de valores, fazendo do supérfluo, prioridade. Como em uma sociedade capitalista, o que você têm representa o que você é, o status (quo) fica garantido a cada nova compra. E isso não vale apenas para objetos físicos, palpáveis. O conhecimento (não o saber) é a moeda de troca de maior valor atualmente no mercado profissional. Nunca o conhecimento teve tanto poder. E qual é a novidade?


A novidade é que começamos a ficar "doentes". Mas não qualquer doença velha, antigona. Só vale doença "nova" e "moderna" como ser bipolar e o tema deste artigo, ser um neofilico. A Neofilia é como uma nova Gripe Espanhola que se alastrou rapidamente, contaminando milhares de pessoas pelo mundo. Ela não mata (talvez), mas deixa você cansado, irritado e impotente diante das inúmeras possibilidades de conhecimento que se apresentam, todos os dias, diante da Tv, das redes sociais e da comunicação em massa. E qual é a novidade?

A novidade é que você não está aprendendo, simplesmente porque conhecer não é saber. Saber (e sabedoria) é coisa de velho. E ninguém quer ser velho, não mais. Virou até insulto. Agora é Terceira Idade. Dessa forma, assistimos vovôs e vovós dançando na frente do computador e jogando Wii. Nenhum deles está interessado em ler (pela primeira vez, quem sabe) uma obra como As Mil e uma Noites, de Antoin Galland com 1088 páginas. Você está?


Para não cometer uma injustiça e ser fatalista, prevendo um mundo de conhecimento oco e superficial, eu continuo acreditando na Geração Y. Como toda doença é apenas a sombra da cura, é dos "nerds" que deve vir a solução. Não falo dos "geeks", mas dos nerds mesmo. 

Geeks já estão contaminados pela neofilia. Os nerds não. A novidade (seja de tecnologia ou qualquer outra) é apenas uma maneira diferente de curtir o que gostam. E parece que este é o segredo: ao reconhecer o desejo de possuir, parar um pouco para sentir a real necessidade daquilo dentro de você e no seu espaço interior (que já deve estar bem cheio).

Portanto, não caia na propaganda de que "O futuro é agora" e outras besteiras. Cultivar o "vazio" pode ser uma boa. É lá onde as coisas crescem, porque tem espaço para respirar.

Abaixo, na ótima musica dos Paralamas (em um vídeo propositalmente velho), eu deixo aquele paradoxo do qual falei lá em cima: poeta ou faminto? Quem é você? Só o seu futuro vai dizer. Abraços!


Links:
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2 comentários:

Mauro Sérgio de Morais disse...

pow, marcão. que bela visão dos fatos. feliz em saber que alguém ainda escreve sobre questões tão sumariamente detonantes da sociedade das humanas.

poeta ou faminto?

hoje vemos poetas de semáforo e famintos por se aparecer.


grande abraço

Pois é, Maurão. Poetas, famintos e sedentos. O que precisamos é descobrir de qual fonte beber. Sorte!