Editorial - Vida de Redator - Tarja Preta - Censura e liberdade de expressão na criação publicitária por Marcos H.

quinta-feira, maio 26, 2011 Marcos Henrique de Oliveira 4 Comments

 (...) nossa categoria, ela não se preocupou muito em formar as próximas gerações. Nos últimos anos, a gente tá só trabalhando e a nova geração tem se inspirado apenas naquilo que a gente tem de maior primazia, no caso, os festivais. Então, eles olham o que ganha o festival. Só que eles olham sem nenhum filtro, então as novas gerações estão se prendendo muito mais na forma do que no próprio conteúdo. (...) e aí você começa a criar propaganda sem muito juizo de valor sobre o que você está dizendo, sobre a mensagem que está por trás. Roberto Fernandez - Diretor de Criação da JWT

Uma das mas maiores dificuldades do estudante de PP no seu primeiro estágio ou emprego em agência é a liberdade de criação, ou melhor, a noção desta liberdade. Em 2008, em uma situação confusa e cheia de dúvidas, estagiários da DM9DDB foram penalizados pelo famoso anúncio "Tsunami" que jogou um balde de água fria no universo da criação provocativa e desafiadora. O caso acima era fraco de conceito mesmo,  ideia ruim, mas que gerou o efeito dominó de mandar para gaveta (ou pro lixo) outras tantas ideias legais. Anos depois, a maré ainda não baixou.

A máxima de que "boa ideia é aquela que vende" é verdadeira, mas não para o processo criativo do redator e da propaganda em geral. É preciso lembrar que a publicidade é um reflexo do meio onde foi criada e que para crescer criativamente, um profissional de propaganda deve trilhar caminhos pelos quais ninguém passou. 

O incidente com a DM9DDB revelou que se não tomarmos cuidado, colocaremos "tarjas pretas" em cada pensamento, em cada conceito pré-formado, transformando-os em preconceito. Será que o  "humor negro" vai virar "humor afro-descendente"?

Vivemos em uma época estranha, cheia de bom-mocismo e atitudes "sustentáveis" que podem, na verdade, estar sustentando a falta de criatividade e de expressão em prol de uma vida sem emoção, toda planejada e certinha. A censura agora é uma dama delicada, de palavras doceis e diplomáticas, mas que escondem o mesmo duro significado: comporte-se ou eu acabo com você.

Calma, sem revolução, mantenha seu emprego. Mas  continue sendo audacioso, continue sendo provocador, continue criando. Se você é estagiário, leve sempre sua ideia para o maior número de pessoas com quem trabalha. Se você já se considera um profissional, faça as perguntas certas para si mesmo sobre a relevância do seu conceito para o cliente, o produto e o publico-alvo. Seja esperto e peça opinião.

Não deixe de construir a sua Capela Sistina, seu widget revolucionário e seu texto inspirador, mesmo que seja para ficar na gaveta aguardando o momento certo. Serviços e produtos como o Facebook, o Ipad, o filme Avatar e outros nasceram assim: com paciência, ousadia e muito, muito trabalho.

Abaixo, uma série de comerciais que foram banidos porque ofenderam alguém. Descubra se ofendem você também e deixe seu comentário. Abraços e boa sorte!

Camisinhas Zazoo (divertida sem perder o foco no produto)

Outro de camisinha (não foi banido porque é muito divertido)

Adão e Eva - Seguros (dúvidas se atingiu o target)

Doritos (essa mereceu ser banida!)
Pepsi MAX® - Love Hurts (humor negro e assumido)

Xbox 360 - Game (muito boa, mas aí teve o 11 de setembro...)
McDonald's (primeiro comercial direcionado para o público gay, ótimo)
Campanhas atuais que foram censuradas

O "Tsunami" que abalou a DM9DDB em 2008

Os comentários atuais sobre a campanha:


Sobre o Autor:
Marcos H. de Oliveira Marcos H. de Oliveira é redator freelance de publicidade e propaganda e consumidor voraz de livros, música, cinema e arte. http://twitter.com/agentescreve

4 comentários:

Gostei cara! Achei vc mto lúcido com relação à parte de criação da PP. Tbém acho que estamos deixando o conteúdo pela forma...boa

Ana Maria

Agradecido! Continue acompanhando o AGE para outras matérias de PP, cinema, música e livros. E compartilhe! Boa sorte e prosperidade.

Helena Perdiz disse...

"Será que o "humor negro" vai virar "humor afro-descendente"?" - Adorei a colocação, acho que isso define bem o tema.
Acho que a sociedade está sendo ensinada a se ofender mais, se ofender com pouco. Já vi gente enxergando preconceito em peça publicitária que definitivamente não tinha esse intuito.

Gostei do seu comentário sobre a sociedade se ofender com pouco. É verdade. O duro é que não estamos falando de pessoas mais velhas. Uma grande parcela de jovens estão virando "açúcar". Valeu!