CISNE NEGRO - NATALIE PORTMAN E A SOMBRA QUE MATA O EGO.

quarta-feira, julho 04, 2012 Marcos Henrique de Oliveira 3 Comments


"Quem sabe o mal que se esconde nos corações humanos? O Sombra sabe... Pois ele tem o mal em seu próprio coração!" - O Sombra, 1930

Apesar de já ter escrito sobre este filme na data de seu lançamento (2010), Cisne Negro faz parte daquele seleto grupo de clássicos que precisam ser revistos de tempos em tempos. E, neste caso, isso vale principalmente para as mulheres-pássaro, mulheres-borboleta e outras tantas que têm por aí.

Perfection is a bitch, se é que você me entende. A maioria das pessoas acredita que o processo de equilíbrio pessoal é como algum tipo de exorcismo de qualquer lado negativo que pode ser retirado com água e sabão ou simplesmente "esquecido" em algum canto da mente. O lance é que não existe um "Zen Delivery" que possa tornar tudo lindo e maravilhoso sem que ocorra uma verdadeira transformação interior. E é aí que o bicho pega.

Se você nunca viu o filme, aqui vai um resumão: após o afastamento de sua principal bailarina Beth MacIntyre (Winona Ryder, tentando salvar seu carreira de novo) uma companhia de balé de Nova Iorque realiza uma audição para O lago dos Cisnes de Tchaikovsky (veja o  trailer abaixo). Nesta nova versão, os papéis de Cisne Branco/Negro devem ser dançados pela mesma bailarina. Como para personagem de Natalie Portman, ser perfeita é ser a primeira e melhor bailarina do mundo, ela fica obcecada pelo papel. Este é seu erro número um.


Acontece que Nina Sayers (Natalie Portman) é a filha de Erica (Barbara Hershey), bailarina aposentada que nunca foi grande coisa e projeta em Nina toda essa frustração através de um controle absoluto de sua vida. E ainda tem que enfrentar a concorrência da bonitinha Mila Kunis (de Amizade Colorida, 2011) no papel de Lily, uma versão "bailarina porra-loca" que não está nem aí para seus valores de esforço e dedicação. Tudo isso contribuí  para que o frágil ego de Nina vá, devagarinho, se fragmentando. Erro número dois.

A mãe de Nina representa sua origem e formação emocional que vem do berço e Lily, os desafios sociais de identidade feminina, os papéis sociais que muitas mulheres têm que enfrentar (e escolher) para definir a sua própria identidade.

Nina é como a Eva do Paraíso sem a cobra e nem o Adão. Ela é fria e intocada, uma bailarina daquelas caixinhas de música. Conta-se que antes de Eva, existia Lilith, a primeira mulher criada por Deus (sem a participação da costela de Adão), maliciosa, sensual e sedutora. Entendeu agora porque a concorrente de Nina chama-se Lily? 


Natalie Portman quebrou uma costela, emagreceu nove quilos e passou sete semanas de treinamento intenso para aprender a dançar balé. O esforço valeu (inclusive um Oscar) mas o que conta mesmo é sua atuação facial. Vale a pena prestar atenção nas micro-expressões que Portman compõe para representar uma mulher que não amadureceu emocionalmente, que vive presa dentro do corpo de uma menininha. 

Nina (assim como a atriz na época) tem 28 anos. Talvez você não saiba, mas 28 anos é o tempo do Retorno de Saturno, um planeta pesadão que, segundo a Astrologia,vem para mudar radicalmente toda a vida de uma pessoa. É este planeta escuro que aparece para protagonista na forma de alucinações e presságios de morte e transformação. Saturno é o Cisne Negro de Nina. Também representa o Ritual de Passagem para o amadurecimento interno que determina o nosso Princípio de Realidade:

Na psicanálise de Freud, o princípio de realidade caracteriza-se pelo adiamento da gratificação. Tal princípio opõe-se ao princípio de prazer, o qual conduz o indivíduo a buscar o prazer e evitar a dor sem restrições. 

Faz parte do amadurecimento normal do indivíduo aprender a suportar a dor e adiar a gratificação. Ao fazer isso, o indivíduo passa a reger-se menos pelo princípio de prazer e mais pelo princípio de realidade.

Respeitar o princípio de realidade consiste em dar conta das exigências do mundo real e das consequências dos próprios atos. (...)

Assim ele tem que viver sob o princípio da realidade que leva em consideração uma série de elementos antagônicos: ele e os outros, a vida indivídual e a vida coletiva, o prazer e o trabalho, a escassez e a saciedade, a espontaneidade e a dominação social etc. 

Através do princípio da realidade, o homem deve encontrar seu caminho para a sobrevivência. - Wikipédia



A biologia descobriu que a cada 7 anos, todas as células do corpo humano são renovadas. Verdade ou não, parece que existem várias coincidências aqui com a Astrologia, o Mito da Fênix e Orobouros (a cobra que morde a si mesma). Um exemplo real foi a gravidez de Natalie Portman, anunciada pouco tempo depois das filmagens. Pelo visto, seja no cinema ou na realidade, ninguém escapa do chamado para transformação. Ninguém.

Cisne Negro apresenta tantas camadas sobrepostas (a mãe controladora, o homem como símbolo de violência e abandono, os quadros pintados pela mãe desde que Nina era pequena, etc, etc, etc,) que eu poderia escrever uma tese aqui. É um grande filme para novas descobertas sobre o feminino (presente em todos nós), a forma como integramos a nossa Sombra (a parte animalesca da personalidade humana) e muito mais. Aproveite e até a próxima.



Atenção: contém spoilers de cenas.



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3 comentários:

Porra, Marcão.

Fiquei pirado para conferir esse filme. Ótima dica, post e tudo mais.

Parabéns pelo site.

Valeu, Maurão. Espaço aberto para escrever quando quiser por estas bandas. Escolha a seção que achar melhor. Ou todas elas, rs.

Grande abraço!

Belloni disse...

Boa percepção em relação ao filme. Só faltou uma coisinha... um botão de "share" pro facebook!

Abraço